Os melhores amigos do presidente são sempre os mais perigosos. Bolsonaro nomeou a dedo os seus mais importantes colaboradores. Buscou dentro dos partidos de centro-direita as indicações para conseguir criar uma base no Congresso, mas nunca escondeu que a ala ideológica vinha do interior da sua casa. Com o passar do tempo, o ex-capitão conseguiu, com habilidade, atrair mais seguidores em torno de suas ideias retrógradas. Foi assim que o ex-ministro Eduardo Pazuello foi alçado ao Ministério da Saúde. Mas o tempo que foi tão benevolente com o presidente, também trouxe desafetos.

E, pouco a pouco, a centro-direita foi sendo expurgada do governo, para ficar apenas os de extrema-direita. Alguns saíram atirando, como foi o caso de Gustavo Bebianno, Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro. Em comum, em todos os casos, está o fato de que os ex-ministros não tinham domínio de tudo o que ocorria nas esferas de decisão da ala ideológica. As denúncias que fizeram, embora graves, não tiveram força para derrubar Bolsonaro. Ele ficou arranhado, mas escorou-se no Centrão para se manter incólume.

A recompensa para os amigos ficou evidente no caso de Abraham Weintraub, que foi nomeado presidente do Conselho do Banco Mundial. Para a atriz Regina Duarte coube o episódio mais patético do Planalto. Depois de nomeada Secretária de Cultura ela nunca exerceu o ofício de fato e foi indicada para liderar a Cinemateca, mas nunca tomou posse. Era pegadinha do Bolsonaro. Assim como Weintraub, o ex-ministro Ricardo Salles, recentemente demitido, precisa ser recompensado em breve. Ele já demonstrou que costuma falar demais e sabe mais sobre os bastidores do presidente do que a maioria de seus auxiliares.

Os filhos de Bolsonaro sempre foram o esteio dessa base de governo e, talvez por isso, informações que elucidem seu aparato de incompetência não seja desmontado. Com tantas denúncias contra o integrantes do governo e com a CPI chegando muito perto do presidente e seus amigos, há quem afirme que delações surgirão e trarão o caminho e beneficiários da corrupção. A língua solta de um fiel escudeiro no caso da Covaxingate é o que mais causa arrepios ao presidente. Não é difícil que surja um garganta profunda, como aconteceu no governo de Richard Nixon, nos EUA, no escândalo do Watergate, em 1972. O deputado Luis Miranda já mostrou que isso é possível.


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