Quem estava no Bar do Zeca, em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo, viu o comerciante Weverson Martins sair do Rio São Mateus com um achado nas mãos. Ao pisar em um pedaço de metal submerso, ele decidiu arrancá-lo da areia para evitar que alguém fosse ferido. Foi assim que descobriu uma surpreendente espada. A suspeita é de que a arma possa ter sido de algum nobre colonizador português. Com 90 centímetros, o que diferenciaria o artefato seria o acabamento refinado, com desenhos na lâmina, falcões no guarda-mão e águias ou dragões bicéfalos no pomo.

A descoberta ocorreu em 17 de março, mas só foi divulgada na semana passada. A hipótese é que a espada tenha sido perdida em combate. Por ali ocorreu a Batalha do Cricaré, em 1557. Se for confirmada a origem, a peça pode indicar a localização do sítio arqueológico. O confronto envolveu 200 portugueses que subiram o rio em embarcações para enfrentar os aimorés, que atacavam os colonos da Capitania do Espírito Santo. Por sua vez, os europeus escravizavam os indígenas.

A batalha terminou em derrota dos conquistadores. Os aimorés estavam em maior número. A história registra que a vítima mais ilustre foi o comandante Fernão de Sá, filho de Mem de Sá, nomeado governador geral do Brasil no ano seguinte. Isolado do resto da tropa, Fernão foi abatido junto com Manuel e Diogo Álvares, filhos de Caramuru, pioneiro português na Bahia. Em algumas versões, Fernão de Sá teria sido devorado pelos índios. A derrota e a perda pessoal teriam provocado a ira do governador geral, que acirrou o que viria a ser a Guerra dos Aimorés, uma campanha de extermínio no Espírito Santo e sul da Bahia que duraria até 1673.

Historiador do norte capixaba, Eliezer Nardoto foi chamado. Surpreso com o que viu, convocou o fabricante de espadas Carlos Fernando Parreira Jr. Ambos suspeitam que a arma é de origem ibérica. O achado desencadeou uma disputa. Nardoto devolveu o artefato ao amigo Martins, por não confiar na capacidade das autoridades locais de preservá-la. Armas históricas já foram furtadas do museu de São Mateus. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) enviou um arqueólogo, que não chegou a ver a espada. A legislação determina que qualquer item arqueológico é da União e deve ficar sob guarda do Iphan, que já entrou em contato com Martins. Nardoto acredita que a relíquia deve ser estudada a fundo, mas não deveria sair da região. “Mesmo que não seja de Fernão de Sá, se levarem a espada o pessoal não vai querer entregar mais nada”, diz. Ele fala dos objetos indígenas e até de uma machadinha colonial desenterradas nos últimos anos.