Diante da fraca reação dos democratas frente ao avanço dos movimentos xenófobos e neonazistas na Alemanha, o ex-líder do Parlamento Europeu e do Partido Social-Democrata Martin Schulz recorreu, na semana passada, ao mesmo argumento e ao mesmo filósofo que foi tantas vezes citado por pacifistas na época que precedeu a Segunda Guerra Mundial – sem que alas conservadoras e progressistas os levassem a sério, deixando o ditador Adolf Hitler chegar ao poder. Disse Schulz, socorrendo-se de Edmund Burke: “para que os maus vençam, basta que os bons se calem”. O temor daqueles que já guardam a certeza de que o país e o continente pendem cada vez mais para a extrema direita tomou corpo, mais uma vez, na cidade de Chemnitz, no leste da Alemanha, na manifestação do “Movimento de Defesa Civil”. Devido ao assassinato de um alemão, atribuído a imigrantes, ocuparam as ruas por 48 horas o “Movimento islamofóbico Pegida”, o “Partido Alternativa para a Alemanha”, a “Iniciativa Pró-Chemnitz” e torcidas organizadas de futebol – todos seguidores do neonazismo. O sinal de que o extremismo já é um determinante componente social escancarou-se. E o risco maior é que tais organizações estão conseguindo instrumentalizar o “Movimento Cívico”, que derrubou o comunismo na Alemanha em 1989, valendo-se do mesmo slogan: “wir sind das volk” (“nós somos o povo”). Naquele tempo, tais palavras de ordem ajudaram a livrar os alemães e o mundo do obscurantismo comunista. Hoje, corre-se o risco de que elas auxiliem na instauração de outra ditadura – a dos neonazistas.

“Nós somos mais”

CIVILIZAÇÃO Show gratuito em Chemnitz: reação contra a xenofobia (Crédito:Hannibal Hanschke/Reuters)

Foi na própria cidade de Chemnitz que veio a reação de grupos que se opõem à extrema direta. Um evento de música gratuito, intitulado “Wir sind mehr” (“nós somos mais”), marcou posição contra a xenofobia. A chanceler Angela Merkel pediu aos alemães que lutem contra o ódio. Como diz o personagem de Woody Allen, no filme “Manhattan”, somente a força vence soldados de “botas tão reluzentes” – ou seja, os nazistas.

GENÉTICA
Pai e avô de todo mundo

Kelly Wilkinson

Donald Cline foi um dos mais famosos médicos americanos na área da inseminação ao longo das décadas de 1970 e 1980. Para inúmeras mulheres ele ofereceu sêmen, dizendo que era de doadores anônimos. Os bebês se tornaram adultos e, seguindo a ciranda da vida, tiveram filhos. Agora descobriu-se que Cline fornecia o próprio esperma, ou seja, ele é pai e avô, geneticamente mesmo, de uma infinidade de pessoas. As autoridades que investigam o caso querem saber quantas mulheres foram ludibriadas e por qual motivo Cline agiu dessa forma. Detalhe: em Indiana, onde se localizava a sua clínica, as leis não proibem o médico de fornecer o seu esperma.

EUA
“The New York Times” detona Donald Trump

Divulgação

O presidente dos EUA, Donald Trump, colhe o que plantou ao brigar com a imprensa. O jornal “The New York Times” publicou artigo de um assessor da Casa Branca, mantendo o seu nome em sigilo. Ele afirma que diversos de seus colegas tentam bloquear a agenda de Trump e cogitaram valer-se da 25ª emenda constitucional para afastá-lo (isso é blefe, jamais um bilionário como Trump seria diagnosticado como mentalmente incapaz). Outro bombardeio: sai na terça-feira 11 o livro “Fear: Trump in the White House”, do jornalista Bob Woodward (caso Watergate). O mínimo que ele diz é que a Casa Branca virou hospício.

ELEIÇÕES
Garotinho e a Ficha Limpa

Wilton Junior

Tiro n’água a candidatura de Anthony Garotinho ao governo do Rio de Janeiro (estado que ele já governou). O TRF da 2ª Região o condenou por unanimidade pelo crime de formação de quadrilha em esquema que fechava os olhos à exploração de jogos de azar. Tecnicamente, devido à condenação por órgão colegiado (duplo grau de jurisdição), Garotinho torna-se inelegível (Lei da Ficha Limpa). Há ainda recursos dos quais ele pode lançar mão. Complica sua vida, no entanto, o fato de a condenação ter chegado antes da finalização do processamento de registro de sua candidatura. E caso tal processamento já tivesse sido concluído, ainda assim poderia ser cancelado diante de um fato novo.

SOCIEDADE
Gravar advogado não resolve crime

Mateus Bonomi

Toda vez que se combate o crime organizado quebrando garantias constitucionais, os criminosos burlam a nova fórmula. Sai perdendo o Estado de Direito. Não vai ajudar em nada – e é só desgaste à democracia – o endosso do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, à gravação de conversas entre advogados e clientes em presídios federais. Se advogado traz ordens de quadrilhas para a rua, isso é crime e esse “doutor” tem de ser preso. É problema da polícia, justamente a polícia que Jungmann comanda. Em tempo: educação, saúde e trabalho nas comunidades detonam qualquer facção: impedem que o crime organizado financie faculdade para seus futuros “gravatas”.