MAMILOS Juliana Wallauer e Cris Bartis: criado em 2014 (Crédito:Divulgação)

Quando um ex-presidente dos Estados Unidos entra em campo, o jogo muda. O lançamento do podcast de Michelle Obama pela “Higher Ground”, produtora dela e de Barack Obama, marca uma nova fase nesse universo que deixou de ser moda e se tornou um dos movimentos culturais mais interessantes dos últimos tempos. Lançado em 29 de julho, o primeiro episódio do programa de Michelle traz uma entrevista dela com o marido. Em um bate-papo informal, o casal lembra do passado e reflete sobre valores familiares. A lista dos próximos convidados inclui parentes e o apresentador Conan O’Brien, além de outras celebridades. Michelle é um nome de peso, mas seu podcast vai concorrer com personagens dotados de poderes sobrehumanos: o bilionário mundo dos super-heróis. A Marvel anunciou a produção de séries do Wolverine e da Viúva Negra, enquanto a DC Comics vai estrear programas com Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha e Coringa. Outros imortais, dessa vez do mundo da música, não ficaram para trás: Robert Plant, ex-vocalista da banda Led Zeppelin, e David Gilmour, líder do Pink Floyd, por exemplo, já lançaram podcasts próprios.

O acordo de Michelle Obama com o Spotify é um novo capítulo na guerra entre a empresa sueca e a Apple. Segundo relatório da consultoria Voxnest, a Apple detinha 77% do mercado em 2019, enquanto o Spotify dominava apenas 23%, isso sem contar as outras plataformas. Em 2020, esse número passou para 59% (Apple) e 41% (Spotify). Isso é reflexo da agressividade da empresa liderada por Daniel Ek, que também fechou contrato de exclusividade com o podcast mais popular do mundo, o “Joe Rogan Experience”, com 190 milhões de downloads mensais.

PLANT & GILMOUR Veteranos: vozes do rock na rede (Crédito:Divulgação)

Como já havia acontecido em 2019, o Brasil aparece novamente com destaque no relatório da Voxnest. No ano passado, fomos apontados como o “País do podcast”, o segundo que mais consome o formato, atrás apenas dos EUA. Esse ano o mercado de criação de podcasts no País é o que cresce mais rápido em todo o planeta, à frente de Inglaterra e Canadá. Entre janeiro e maio de 2020, houve um aumento de 103% no número de produções locais. Pedro Turra, sócio e Head de Áudio da produtora Pod360, afirma que a empresa dobrou a operação desde o início da pandemia, passando de 18 para mais de 40 pessoas, incluindo freelancers e locutores. “Enquanto a TV e o rádio impõem seu conteúdo, o podcast é escolhido pela audiência. Isso é bom para as marcas, que podem patrocinar programas segmentados”, diz Turra. “Podcast não é só o áudio, ele depende de um bom conteúdo.” A produtora investiu até em softwares de inteligência artificial para garantir a qualidade das gravações remotas, uma vez que os estúdios estão fechados por causa da pandemia.

De olho nesse mercado, o Spotify lançou “Sofia”, estrelada por Cris Vianna, Monica Iozzi, Otaviano Costa e Hugo Bonemer. A série de ficção é baseada em “Sandra”, trama sobre uma assistente virtual que também será adaptada para Alemanha, França e México. “É nosso primeiro projeto de podcasts em escala mundial”, afirma Javier Piñol, diretor do Spotify Studios na América Latina. As séries com foco em crimes reais fazem sucesso desde “Serial”, podcast de jornalismo investigativo lançado nos EUA em 2014.

Segundo o Ibope, 50 milhões de brasileiros já ouviram podcasts, o que corresponde a cerca de 40% dos 120 milhões de internautas do País. Desse total, 16 milhões (19%) escutam diariamente. Segundo estudo da Deezer, concorrente do Spotify, o consumo de podcasts por aqui cresceu 67% apenas em 2019.

Um novo hábito

O hábito de ouvir programas em áudio beneficiou indústrias correlatas, como a dos audiolivros. Lançado em 2014, a Ubook é a maior plataforma da América Latina. Segundo o CEO, Flavio Osso, o consumo de conteúdo em áudio só aumenta. “A pandemia fez subir a nossa audiência entre o público jovem”, afirma, citando o crescimento de 4% entre os internautas de 18 a 24 anos. Pela Ubook, foram ouvidos cerca de 22 mil títulos no primeiro semestre de 2019, entre audiolivros e podcasts. No mesmo período, em 2020, esse número quase dobrou. O mercado é atraente e promissor: o aplicativo Orelo, outra plataforma de podcasts, acaba de chegar ao País com um catálogo de 700 mil títulos e a previsão de repassar mais de R$ 10 milhões para os criadores de conteúdo.

A expressão “podcast” foi criada em 2004 por Ben Hammersley, jornalista da rede britânica BBC. Vem do termo Personal On Demand Broadcast, ou “Rede de Transmissão Pessoal sob Demanda”. Ao final do ano em que o termo foi criado, havia três mil programas disponíveis. Hoje, 16 anos depois, há uma quantidade muito superior a essa produzida diariamente. Se na década de 1920 vivíamos a Era do Rádio, hoje, um século depois, surfamos a Era do Podcast. Isso só mostra que, mesmo com toda essa tecnologia, a humanidade ainda não encontrou nada que substitua uma boa conversa.

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