É nesse momento que tudo muda. Que norte e sul mudam de lugar, as prioridades se invertem, o calor nos inunda a face e o coração, onde antes reinava um ressonante vazio, se transforma em um sistema sonoro de alta fidelidade. Como “nada de essencial acontece na ausência do som”, também nada de essencial sucede na ausência do amor.

Deslizei a língua e te procurei no som desses poemas ingleses, mesmo sabendo que preferias outras línguas a essa, que chamavas bárbara, própria de vikings e normandos, mas tu sabias que o ritmo de quem não estima os verbos carrega histórias que fazem sentido muito para lá da foz do Avon.

Sabia também que era mais fácil para ti preferires o Sul e que, por isso, se não aproveitássemos bem o portal que se abria, podíamos não encontrar outra chance de imigrar de mágoa para a simplicidade que aquela música ia juntar à nossas vidas. Os poetas sem “ser” nem “estar” são mais dados a acertos musicais que a arranjos de letra. Também coisas de bárbaros.

Começavam sempre com uma ideia forte, como uma profecia capaz de mudar o mundo. E este foi assim: It is hopeless my love / time hits as the rain falls / overpassing our virgin souls/ like moist and green bond in fertility / Time is ours. It’s our time / and as I told thy is hopeless as it can be.

Os poetas sem ser nem estar são mais dados a acertos musicais que a arranjos de letra. Por isso, devemos sempre temer os trovadores ingleses

O compasso da língua sibilando na ponta dos lábios, estalando no céu da boca, era estribilho necessário para o que vinha a seguir. Devemos sempre temer os poetas ingleses que se escondem em noites de sono como se soubessem dormir.
And even more hopeless to be / though you keep concealing from me / is the very fine moment we sought / Cos I still have not met what I know that it’s that / I still have not heard, nor smelled or reached / the flavor of your thoughts or the faith of my preach.

Nenhuma bailarina saberia ser tão leve como aquelas palavras que o vento trazia. E continuei. I know that you keep me ignorant and foul / so I won’t fall deeper from the sky and above / but Time always finds the perfect rejoice / all times it had laid in the sound of your voice.

Já não havia longe, nem distância. O som das tuas palavras produzia sentidos com aquela mesma textura com que a brisa de verão nos acaricia a pele nas tardes quentes ao pôr do sol.

Me olhaste lânguida e doce sorrindo — Preciso que me diga tudo isso ao ouvido quando me vir! Para eu ver se é mesmo verdade!

Aí eu respondi como uma criança que finalmente aprendeu a caminhar — Já conheci muita gente mas,
de fato, ninguém como você!