A pouca idade de Marina dos Santos Nascimento, 11 anos, não expressa as dificuldades que ela enfrenta na vida devido à epilepsia. Aos três anos e nove meses, Marina começou a sentir os primeiros sintomas da doença: perda da consciência, fortes contrações musculares, tremores pelo corpo e quedas ao chão bruscas e doloridas. Esses problemas aconteciam com frequência semanal, mas com o passar do tempo, as crises se tornaram um drama diário e inesperado. Às vezes, a menina percebia que iria ter uma crise e chamava pela mãe. “Chegou ao ponto da minha filha ter 35 episódios por dia”, conta Vânia Nascimento, 35, mãe da jovem. Nesse período, setembro de 2016, Vânia conta que, devido à doença, a filha perdeu os movimentos do lado direito do corpo por duas semanas. Após esses primeiros sinais da epilepsia a criança passou a ter uma vida cheia de limitações e a família esmerava-se em prestar-lhe suporte. Vieram os medicamentos, mas nada resolvia o problema. O caso Marina era tão sério que ela parou de brincar e passou a ter um sério comprometimento em seu rendimento escolar.

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O breve resumo da vida de Marina exposto acima hoje é parte de uma lembrança a ser esquecida. Diante de sua condição de fármaco-resistente, verificada há três anos, a garota foi submetida a um tratamento cirúrgico no Brasil pouco invasivo e eficaz. A técnica consiste na colocação de um dispositivo metálico, um gerador de energia semelhante a um marcapasso, no tórax, embaixo da pele. O gerador transmite pulsos elétricos a três eletrodos que são colocados no nervo vago, situado no pescoço do doente, o que permite que os estímulos cheguem ao cérebro. Para Marina isso significou vida nova: as crises foram reduzidas. Agora, o tratamento da garota deve trazer resultados ainda mais animadores. Na quarta-feira, 7, ela foi operada para a substituição do antigo gerador por um modelo de última geração.

“Há uma visível melhora da qualidade de vida do paciente com o uso do equipamento. Conseguimos uma redução de 50 a 75% nas crises” Alessandra Moura, neurologista

O novo equipamento recebeu aprovação da Anvisa em outubro do ano passado, mas já estava em uso nos EUA e na Europa. O gerador denominado SenTiva foi fabricado pela empresa de tecnologia médica LivaNova e apresenta diversas diferenças importantes para o tratamento da epilepsia: há um imã, pequeno, que o paciente carrega consigo, como se fosse um relógio. Ele favorece algumas pessoas que sentem alterações no corpo antes de acontecer o evento epilético. Assim, o próprio paciente passa esse imã pelo peito, no local em que está instalado o aparelho e ativa o gerador que passa a emitir os impulsos elétricos que contêm a crise ou, pelo menos, reduzem o seu impacto. Além disso, o aparelho é programado para detectar alterações na frequência cardíaca que podem ocasionar uma crise. Quando isso acontece o dispositivo entra em alerta e manda pulsos ao cérebro. Esse produto ainda permite que o médico realize um tratamento individualizado, com sete programações diferentes, e diminua a quantidade de visitas do paciente ao consultório.

No caso da menina Marina, os ataques desapareceram. O equipamento minimizou seu problema. “Minha filha está livre das crises”, afirma Vânia. No Brasil, 2% da população sofre com a epilepsia e um terço dos doentes são fármaco-dependentes. “Há uma visível melhora da qualidade de vida do paciente com o uso do equipamento”, diz Alessandra Moura, médica neurologista especializada no tratamento de pacientes com epilepsia que operou e assiste Marina. “Conseguimos alcançar uma redução de 50 a 75% das crises”, explica. Por enquanto, o dispositivo não elimina a utilização da medicação, mas está provado que ele melhora consideravelmente a situação do doentes.