Para o bem de todos e felicidade geral da Nação, acabou a eleição. Entre mortos e feridos – em alguns episódios, literalmente –, esse desgastante processo que um dia já chamamos de “festa da democracia” termina com final feliz. Será?

A vitória de Lula foi um alívio, mas é bom lembrar que a eleição foi só o primeiro passo na reconstrução do Brasil. Mais quatro anos de desgoverno tornaria nossa tragédia irreversível, mas a loucura exibida recentemente pelos manifestantes da extrema direita mostra que o ambiente está longe de estar pacificado. Do jeito que a coisa vai, é difícil dizer se algum dia estará.

O mal que o presidente causou ao País é como ele: inominável. Do ponto de vista histórico, ele terá o que merece, um rodapé insignificante nos livros de história sobre o período. Seu legado, porém, será bem maior do que ele foi –
e isso é uma péssima notícia.

Seu comportamento truculento e negacionista marcado pelo desrespeito à vida, às mulheres e às minorias despertou no brasileiro o que o nosso povo tem de pior. Debochar de gente que acabara de morrer, enquanto suas famílias ainda velavam os corpos, era algo que só podia passar por uma cabeça doentia. Mas nem o pior ser humano do mundo teria coragem de dizer isso publicamente. Bolsonaro não apenas teve, como o fez diversas vezes.

Mais quatro anos de desgoverno tornaria a tragédia irreversível. Bolsonaro perdeu. Mas a loucura da extrema direita mostra que a paz está longe

Por isso é tão triste descobrir que metade do País simplesmente concorda com isso. Acredito que entre seus eleitores exista gente do bem, pessoas ingênuas que caíram nas fake news do “fantasma do comunismo”ou do “Brasil que viraria Venezuela”. Existem também os eternos ressentidos com a vida, aquelas figuras tristes que se julgam injustiçadas pela sociedade e por seus próprios destinos, seja por incompetência própria ou pela incapacidade de se adaptar aos tempos modernos. Regimes fascistas sempre inventam um inimigo comum e conclamam seus seguidores a combatê-lo. Para os trumpistas, eram os imigrantes. Para os nazistas, os judeus. Para bolsonaristas, os petistas.

Nosso maior problema, porém, serão aqueles que viram em Bolsonaro alguém que lhes autoriza a dizer o que apenas pensavam. Gente racista, que odeia pobre. Para quem índigenas não “servem para nada”. Que justificam agressões a mulheres. Que dizem que a polícia tem que entrar na favela e matar todo mundo. Que preferem clubes de tiro a escolas, armas a livros. Reconstruir o País com essa turma será necessário, mas muito difícil. Boa sorte, Brasil.