Rodrigo Zaim

Em poucos meses o ensino a distância deixou de ser uma opção e virou regra no País. Com escolas e universidades fechadas, a migração para o ambiente virtual de aprendizagem aconteceu de maneira apressada e gerou desconfiança. Estudantes, pais e professores foram ao debate: como a aula remota pode ser melhor? No fim do ano letivo a resposta varia, mas aliar tecnologia e ferramentas digitais com a formação continuada de professores é uma resposta comum e uma tendência irreversível. Diante do isolamento social, cabe aos professores se aprimorarem no uso de métodos eficazes para ensinar a distância e aos alunos se adaptarem às novas dinâmicas de transmissão de conhecimento.

“A educação que muitos viram na quarentena não foi o que chamamos de EAD, mas sim uma migração das aulas presenciais para o mundo digital”, diz a pesquisadora Ana Lúcia de Souza Lopes, professora do curso de Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior da Universidade Mackenzie. Ela explica que o EAD é um sistema de ensino planejado para ser feito fora da escola, com estrutura e recursos próprios, como plataformas digitais inteligentes – mais completas que programas de videoconferência como o Zoom – e dinâmica de interação que vai além da aula gravada ou ao vivo. O que se vem fazendo durante a pandemia é um exercício improvisado de ensino híbrido, mas a experiência está sendo bem aproveitada e uma nova geração de educadores especializados começa a surgir para transformar a educação no País.

Essa diferenciação é importante quando se pensa em como estudam os professores e futuros professores, já que o Ministério da Educação divulgou recentemente um dado inédito: a maioria dos cursos superiores relacionados à docência está no EAD. Os dados do censo da Educação Superior de 2019, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), trazem uma realidade que veio para ficar. Entre 2009 e 2019 o ensino universitário a distância cresceu 379% nas instituições particulares. Só no ano passado, cerca de um milhão e meio de alunos se matricularam em cursos nesse formato. O curso de Pedagogia, responsável por formar professores da educação básica, se tornou o mais procurado nas instituições privadas, seguido pelos cursos de licenciatura em áreas como Matemática, Educação Física ou Geografia. Pela primeira vez na história, o número de estudantes que ingressam em cursos privados de graduação a distância foi maior do que os que optaram pela modalidade presencial.

“O ensino a distância não é para todo mundo. Essa ideia de que é mais fácil ou menos exigente está errada”, diz Aldo Moura, aluno do sexto período da Licenciatura em Física (EAD) da universidade Cruzeiro do Sul. Essa é sua segunda graduação feita pelo EAD e ele já atua como professor. Formado em Filosofia, diz que as aulas on-line da graduação o ajudam a entender, no dia a dia da sala de aula, as dificuldades reais de seus alunos. “Sei o que funciona e o que é chato”, diz. A aula que dá certo usa elementos que não poderiam ser usados na classe tradicional: gráficos interativos, notícias, vídeos e música a um clique. Segundo Ana Lúcia, a cultura digital entre os professores ainda é baixa e os cursos precisam de mais qualidade. Não é preciso ir longe para ver o problema: os cursos a distancia, majoritariamente de instituições particulares, recebem ano a ano as piores avaliações do Ministério da Educação. Mas a visibilidade que o EAD ganhou em 2020 pode ser um divisor de águas.

No fim de 2019, o Conselho Nacional de Educação determinou uma mudança importante na base comum dos cursos de formação para torná-los híbridos: carga horária de 2400 horas remotas e 800 horas presenciais. “Com o fim da pandemia, em 2021, não haverá mais normalidade para voltar. Teremos duas modalidades: online, totalmente a distância, e híbrido, um misto das antigas modalidades. Porém, em ambas, haverá muito uso de ferramentas digitais, incluindo ambientes virtuais de aprendizagem”, afirma Ronaldo Mota, diretor da Digital Pages e do Instituto de Profissionalização Digital. “Uma boa escola contemporânea deve estar preparada para disponibilizar o mesmo conteúdo via uma multiplicidade de mídias, a mais extensa possível”, diz.