O preço dos combustíveis já está caindo, o Auxílio Brasil será pago com acréscimo de 50%, a conta de luz vai chegar mais barata e benesses como o vale-gás e a bolsa caminhoneiro vão trazer uma grande sensação de alívio para a população. Economistas prevêem que haverá deflação em julho, talvez em agosto também.

Até que ponto a sensação de bem-estar gerada pelas benesses eleitoreiras vai afetar as eleições?

A economia é o principal fator de escolha de governantes, e isso conta a favor das manobras presidenciais.

As pesquisas mostram que o Auxílio Emergencial, no início da pandemia, melhorou a avaliação de Bolsonaro, apesar da gestão criminosa na crise da saúde. Por outro lado, a recauchutagem do Bolsa Família, ao arrepio das orientações dos especialistas, não desfez a péssima imagem do capitão nos rincões eleitorais. No momento, o pacotaço de bondades  a pouco mais de dois meses das eleições tem toda a cara de estelionato eleitoral, o que vai causar desconfiança para quem já pena com uma inflação de dois dígitos há mais de um ano. É pouco provável que um governo disfuncional e incompetente em múltiplas áreas consiga reverter sua imagem num prazo tão curto.

A oposição cometeu um grave erro ao rasgar a Constituição endossando as PECs eleitoreiras. Na prática, legitimou as ações ilegais do presidente

Na literatura política, o “feel-good factor” também tem a ver com uma sensação de otimismo, uma visão confiante difícil de ser traduzida e impossível de ser quantificada.  Porém, há pouca razão para esperança diante da erosão institucional e da fome. Ao contrário da última ditadura, o governo Bolsonaro não promete um país do futuro, mas o regresso a um passado sem perspectivas, a uma sociedade injusta presa à armadilha do baixo crescimento.

Já a oposição cometeu um erro histórico ao rasgar a Constituição endossando as PECs eleitoreiras e deu ao presidente a ferramenta mais poderosa em sua luta pela reeleição.


Na prática, ela legitimou suas ações ilegais. Com a ajuda dos adversários, o mandatário fortalece a cada dia a narrativa de que seu governo tem rumo, recebe o apoio do Congresso e produz resultados concretos para a população. É lamentável. Como mostram os grandes nomes da história, é obrigação de qualquer líder desnudar realidades incômodas e apontar a necessidade de medidas amargas. Só essa atitude pode pavimentar o crescimento. Que essa hombridade praticamente tenha desaparecido no atual quadro político-partidário diz muito sobre o panorama que o País vai viver no próximo período, com ou sem Bolsonaro.