Lado externo do Maracanã. Domingo, 14h30. Noventa minutos antes da bola rolar para o primeiro jogo da final do Carioca 2020 entre Flamengo e Fluminense. Numa circulada pelo entorno do estádio dá para ver algumas pessoas andando, raros ciclistas, dois casais fazendo piquenique perto do Museu do Índio, três torcedores do Flamengo que aguardavam a chegada do ônibus da equipe para o duelo. Somando todos, não havia 50 pessoas numa área que, em dia de jogo aberto ao público, teria mais de 70 mil circulando. Tempos de pandemia e jogos sem público.

Num quadro assim, a situação mais insólita era a vivida por Edson – tradicional ambulante que há 20 anos vai a quase todos os jogos no Maracanã para vender bandeiras de algodão. Não por acaso ele é conhecido como Edson das Bandeiras. Montou o seu varal no setor 4, que dá para o Parque Aquático Julio Delamare, bem próximo à entrada da Estátua do Bellini, local usado para a entrada da torcida do Flamengo. Em pé, tomando água, ele olhava em busca de algum cliente fortuito.

– Cheguei aqui no início da tarde, estou há três horas e só vendi uma bandeira, fazendo desconto. O preço é R$ 40, mas tem jogo por R$ 30 – disse ele, ao lado de Adriano, segurança do Parque, que fazia companhia a Edson naquela área quase desértica.

Entre um gole de água e outro, Edson vai desfilando seus lamentos.

– Num dia normal de clássico vendo umas 80 bandeiras. Elas são de boa qualidade, não rasgam facilmente e podem ser lavadas. Duram muito e os clientes gostam. Ganho uns 3 mil e me dá lucro. Mas, até agora, neste domingo, ganhei R$ 30 – repete.

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Um carro para perto. Edson dá uma olhada, mas o motorista vai embora.

– Meu único cliente estava de carro. Parou lá do outro lado da pista (a Avenida Maracanã tem quatro faixas na altura do estádio), veio e comprou. Espero que na hora do jogo, pelo menos tenha mais gente fazendo exercícios, isso pode aumentar a minha clientela.

Edson não diz para qual time torce e lembra que expõe mais bandeiras do Flamengo (eram três contra uma do Fluminense) porque a torcida rubro-negra é maior e mais interessada no produto. Ele diz que, por isso, torceria para a vitória do Rubro-Negro.

– Se der Flamengo, pelo menos dá pra ir à Praça Varnhagen (perto do estádio) onde tem bares abertos e lá posso tentar vender mais algumas, para não ficar tanto no prejuízo.

Na quarta-feira passada, quando o Fluminense derrotou o Flamengo nos pênaltis e ganhou a Taça Rio, Edson também circulava no entorno do estádio. E a situação foi pior.

– Não vendi nenhuma. E olha que o movimento era um pouco maior, pois era dia de semana. Tinha gente correndo e nos pontos de ônibus. O jeito foi ir pra Copacabana, mas a praia estava vazia, os bares às moscas. Não tinha pra onde correr. Encontrei um grande amigo, que também está sempre aqui do lado de fora do Maracanã. Vende faixas. Sabe quantas ele vendeu? Cinco. E ainda teve o carro rebocado. A vida não anda fácil, “mermão” – disse Edson, que em dias sem jogos vende as bandeiras no Balança Mas Não Cai (famoso prédio de habitação popular entre o Sambódromo e a Central do Brasil)

– Mas até lá tá complicado. A concorrência é com bandeiras mais baratas. A minha tem qualidade e eu vendo mais caro, assim tenho que ficar procurando uma outro tipo de clientela – finaliza Edson, querendo que dias melhores voltem, e com muita gente nos jogos.


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