Até hoje a dor crônica foi vista pela medicina como sintoma de um problema de saúde. Agora ela continua a ser um indicativo de que algo não vai bem no organismo, mas a ciência passou a observá-la em maior profundidade e em novos ângulos. Dessa maneira, médicos conseguem oferecer aos pacientes modernas abordagens que vêm apresentando resultados satisfatórios. Isso é o que afirmam pessoas que procuraram primeiro por uma cura e, depois de um longo período de insucessos, passaram a querer, pelo menos, alívio. A cardiologista Veridiana Silva de Andrade, 47 anos, conta que conviveu com fortes e crônicas dores nas costas por duas décadas. “Durante um processo de mudança de residência me abaixei para pegar uma caixa de livros que estava no chão. Foi nesse momento em que senti um incômodo na coluna” diz ela. Daí para frente a dor foi progressiva, e, por muitas vezes, teve de se afastar do trabalho. A medicina não para de evoluir e novas abordagens surgem o tempo todo. Veridiana se valeu de uma das mais recentes. Foi retirada uma vértebra lesionada de sua coluna e, em seu lugar, implantou-se um disco feito de titânio. “Esse novo procedimento é realizado com instrumentos diferenciados que permitem a remoção do problema com cirurgia minimamente invasiva”, explica Luciano Miller, médico cirurgião de coluna do Hospital Albert Einstein e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia. Hoje, Veridiana sente-se bem, está trabalhando normalmente e voltou até ao seu hobby — o hipismo.

CIÊNCIA O cirurgião Luciano Miller avalia exames de sua paciente Veridiana: disco de titânio na coluna vertebral (Crédito:Marco Ankosqui)

O poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto passou a vida com fortíssimas dores de cabeça a ponto de homenageá-la com o poema Ode à aspirina. O mal que acometia o escritor é um dos mais comuns no Brasil, onde cerca de 50% da população padece de enxaqueca. Leslie Rizzoto de Azevedo tem 54 anos e desde a infância sofre com tais dores. Após ter-se submetido a todos os tipos de terapias e passado pela avaliação dos mais renomados especialistas, encontrou enfim um moderno método que une injeção mensal, ao preço de R$ 20 mil, e medicação antidepressiva. “A combinação deu certo”, diz ela. A associação das drogas impede que a dor ocorra, mas o processo que permitiu a Leslie ter vida normal é custoso e não pode ser interrompido. “Tive de processar a operadora de saúde para que ela pagasse o fármaco injetável”.

Para quem tem dor crônica nos joelhos, eis que a fisioterapia ainda pode apresentar novas abordagens. A especialista Rebeca Magliaro de Souza Cipolet, 36 anos, atende cinco mil pessoas anualmente que entram em seu consultório de uma forma e saem de outra. “É como se fosse milagre”, diz Bernadete Bruno, bancária aposentada, que é paciente de Rebeca. A nova técnica aplicada por Rebeca foi criada na Bélgica e o diploma de especialização é concedido pelo Instituto de Fisioterapia Articular belga. “O procedimento consiste em fazer manobras leves no corpo do paciente que reposicionam as articulações”, diz ela.

Diversos trabalhos científicos internacionais afirmam que as mulheres sentem dores fortes e, às vezes, sem causa aparente e em maior quantidade que os homens. Nesse sentido, a endometriose está entre tais dores. Contra esse desconforto também há novidades. Trata-se de um procedimento conjunto envolvendo métodos cirúrgicos e drogas mais especificas. “Hoje temos câmeras que possibilitam a visualização da parte do corpo em que a dor está presente com extrema nitidez. Assim, podemos resolver o problema com mais assertividade”, afirma Walter Pace, ginecologista da Academia Mineira de Medicina e membro do Centro de Endometriose do Hospital Santa Joana. O tratamento de dores crônicas, nesse contexto, está ganhando da medicina um olhar diferenciado.

EXERCÍCIO A fisioterapeuta Rebeca Cipolet em atendimento a Bernadete Bruno: nova fisioterapia (Crédito:Divulgação)

Quatro sinais de alerta

  • Dor persistente por mais de três meses na mesma região do corpo
  • Limitação dos movimentos e incapacidade de fazer tarefas simples
  • A dor não tem motivo aparente e pode ser sentida mesmo após tratamento médico
  • Surge de forma repentina