A Nicarágua se consolida rapidamente, ao lado da Venezuela e de Cuba, como uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina. O autocrata local, Daniel Ortega, venceu as eleições do dia 7 e conquistou o seu quinto mandato – o quarto consecutivo – de cinco anos. A mulher de Ortega, Rosario Murillo, considerada por alguns analistas como o cérebro do regime, foi reeleita para a vice-presidência. Foi mais um espetáculo deprimente de cartas marcadas. Durante 2021, o governo prendeu sete pré-candidatos presidenciais que tinham a chance de vencer Ortega. Por isto, os EUA e a União Europeia, impedidos de enviar observadores, consideraram a eleição ilegítima. Ortega se aproximou, desde a década passada, às ditaduras de Cuba e da Venezuela, mas é com a China que o país mantém uma parceria comercial e estratégica mais próxima. A aproximação com Pequim preocupa Washington. Os chineses têm planos de construir um canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico, atravessando a Nicarágua. Um canal deste tipo teria o potencial de desviar o fluxo do Canal do Panamá, que é estratégico para os EUA.

“O projeto do canal atravessando a Nicarágua é de 2013 e será executado por uma empreiteira chinesa. Mas, como ela está em dificuldades financeiras, adiou o plano”, explica Carlos Eduardo Martins, professor de Relações Internacionais na UFRJ. Segundo ele, o governo de Ortega começou a realizar desapropriações no traçado do futuro canal, que deve aproveitar o vasto Lago da Nicarágua como via de passagem entre os oceanos.

Biden quer sanções

Antes de construir o canal, Ortega terá que lidar com as sanções que o presidente americano Joe Biden prometeu aplicar contra a Nicarágua. Os EUA podem expulsar o país do Tratado de Livre Comércio da América Central e República Dominicana (CAFTA-DR, na sigla em inglês). Para a Nicarágua, a expulsão seria letal, pois mais de 50% do comércio exterior é feito com os EUA. Cada vez mais isolada, a Nicarágua é o terceiro país mais pobre das Américas.