A derrota do magnata Andrej Babis, primeiro-ministro da República Tcheca que perdeu as eleições em 9 de outubro, consolidou um movimento que já havia se mostrado um pouco antes com a vitória dos social-democratas na Alemanha e da centro-esquerda na Itália: o ocaso da extrema direita na União Europeia. Mais importante: a República Tcheca, originalmente, é uma das fundadoras do chamado “Grupo de Visegrado”, uma união ultra-conservadora entre Polônia, Hungria, República Checa e Eslováquia.
Fundado em 1991 na cidade húngara de mesmo nome, para facilitar o acesso dos países do Leste Europeu à União Europeia, o Grupo de Visegrado desvirtuou-se na primeira década deste século, após seus países serem admitidos no bloco europeu. Na década passada, a extrema direita, inspirada no então presidente americano Donald Trump, chegou ao poder nesses quatro países com resultados nocivos ao processo democrático, ao Estado de Direito, às minorias e aos imigrantes. A Polônia trava uma disputa com a União Europeia, que colocou o país na rota de colisão iminente com Bruxelas. A Hungria terá eleições em 2022 e seu premiê ultra-conservador, Viktor Orbán, não é o favorito para conquistar mais um mandato.
Mas foi na pequena República Tcheca que o Grupo de Visegrado efetivamente perdeu o poder agora em outubro, com a derrota do premiê conservador Andrej Babis para cinco partidos da oposição. Babis deverá entregar o cargo em novembro. Sua partida é uma boa notícia para os valores democráticos que construíram o que hoje é a União Europeia, em lentas e pacientes etapas, a partir de 1951. Quando o diplomata francês Jean Monet idealizou, naquele ano, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – que juntava Alemanha Ocidental, França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo – imaginou uma Europa unida, democrática, solidária e economicamente desenvolvida, após a destruição provocada nas duas guerras mundiais.
Ao derrotar a extrema direita nas urnas, os cidadãos do Grupo de Visegrado mostrarão que não existe espaço na Europa para o próprio grupo xenófobo dos seus líderes. A extrema direita agoniza na Europa. Em breve, será derrotada também no Brasil e na América Latina.