17/09/2024 - 16:11
A pesquisa Quaest mais recente para a prefeitura de São Paulo, divulgada em 11 de setembro, mostrou que Guilherme Boulos (PSOL) tem a intenção de voto de 43% dos eleitores paulistanos que escolheram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
No levantamento anterior do instituto, no fim de agosto, a transferência de votos era de 44%. A oscilação negativa se deu mesmo com Lula ocupando boa parte do tempo de propaganda eleitoral do psolista e participando de dois de seus comícios (incluindo aquele em que o hino nacional foi adaptado para a linguagem neutra), um em Campo Limpo e outro em São Miguel Paulista.
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Um petista no PSOL
Além do esforço do presidente, a direção nacional do PT repassou R$ 30 milhões do fundo eleitoral da sigla para Boulos fazer campanha, quantia que supera a soma de repasses a seus próprios candidatos às prefeituras de capitais.
O apadrinhamento e os recursos são formas de aproximar o deputado de ser um postulante “do PT”, como diz o próprio Lula, para superar as resistências e o desconhecimento dos eleitorados lulista e petista a ele na cidade.
Mas, conforme revelou o jornal O Globo, o entorno do presidente tem feito críticas às estratégias de campanha do aliado por um “alinhamento excessivo” ao PSOL, partido de histórico pouco expressivo em eleições majoritárias e que sofre resistência de parte do eleitorado paulistano.
Ao mesmo tempo, o próprio candidato carrega uma rejeição de 37%, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 12 de setembro, a segunda maior entre os concorrentes ao cargo.
Ao contrário de seu padrinho político, que em 2022 já havia ocupado o Palácio do Planalto por oito anos e mantido boas relações com empresariado e setores conservadores da sociedade, Boulos nunca chegou ao Executivo e, como afirmou ao site IstoÉ Gabriel Pires, analista de pesquisas do Instituto Travessia, é “mais associado a um extremismo de esquerda” — em especial pelo período em que liderou o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Dificuldade de migração
Uma fonte na campanha de Ricardo Nunes (MDB) afirmou ao site IstoÉ que o prefeito tem adesão relevante nas regiões periféricas da cidade, enquanto pesquisas internas indicam que parte do eleitorado dessas áreas — que são redutos eleitorais do petismo — ainda não identificou Boulos como o “candidato de Lula”. Na Quaest, o emedebista teve a intenção de voto de 17% dos eleitores do presidente.
Já a pesquisa Datafolha de 12 de setembro mostrou que Nunes tinha 27% das intenções de voto entre eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos, ante 21% do psolista. No primeiro levantamento do instituto após o início oficial da campanha, em agosto, ambos tinham 18% no segmento.
Segundo integrantes da campanha de Boulos, Lula deve voltar a São Paulo para ao menos três agendas de rua ao lado do apadrinhado, que devem ocorrer na periferia. A expectativa é de que a presença do petista ajude o aliado a superar a máquina pública municipal e ganhar mais força nesse eleitorado.
Estratégia mantida
Mas, com o objetivo de reproduzir em outubro o cenário eleitoral de 2022 na capital paulista, quando Lula recebeu 53,54% dos votos no segundo turno, contra 46,46% de Bolsonaro, a campanha de Boulos segue apostando na vinculação ao cabo eleitoral e na associação dos principais adversários ao ex-presidente.
Para Gabriel Pires, a estratégia encontra menor ressonância neste ano pelas diferenças em relação à disputa presidencial. “Lula precisou costurar uma ampla conciliação para se eleger. Ficou claro, em pesquisas qualitativas, que sua vitória representou um esforço para impedir a reeleição de Bolsonaro“, disse o analista.
Além disso, a própria importância dos padrinhos nacionais é colocada à prova na medida em que mesmo aspirantes a prefeito apoiados por Bolsonaro têm dificuldade em herdar seu eleitorado. “As eleições municipais têm uma lógica própria e ligada a dinâmicas locais. A força dos cabos eleitorais é secundária, para ‘desempatar’ cenários de indecisão dos eleitores entre dois candidatos”, prosseguiu Pires.
“Muitos eleitores de Lula não têm uma afinidade em relação ao espectro político. Em 2022, por exemplo, houve com frequência o voto no petista para presidente, e em Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo pelo Republicanos] para o governo. Portanto, não há contradição quando um desses eleitores escolhe Ricardo Nunes para a prefeitura“, afirmou ao site IstoÉ.