Capacidade reduzida, regras sanitárias que são alteradas, incertezas: a pandemia vai acabar com o prazer dos torcedores de organizar suas viagens durante a Eurocopa, e até faz diretamente com que desistam de viajar devido aos problemas que provoca.

“É tudo muito confuso. Tudo o que sei é que as partidas vão ser disputadas… mas quanto ao resto, nada”, disse à AFP Sébastien, torcedor franco-alemão que trabalha como auditor financeiro em Luxemburgo. Ele comprou ingressos em 2019 para a partida de abertura em Roma, para o jogo França-Alemanha, um dos grandes duelos da primeira fase que será disputado em Munique, assim como para a segunda semifinal e a final em Londres.

“Não sei se terei que fazer um teste de PCR, não sei se terei que ser vacinado, se poderei ir para Londres sem precisar cumprir uma quarentena, se a capacidade será de 25, 30 ou 50%… nem sei se vou poder usar meus ingressos porque ouvi falar de um sorteio”, conta ele.

O programa inicial de Sébastien também incluía o turismo. No ano passado ele já havia reservado o voo Luxemburgo-Roma, depois Roma-Munique e finalmente Munique-Luxemburgo, com as respectivas noites de hotel. “Pensava em passar alguns dias em Roma e Munique. Tive que cancelar tudo e as companhias aéreas não me devolveram o dinheiro até o momento”, critica.

– “Se não for permitido cantar…” –

Apesar de todos os problemas, quer tentar ir, embora “não seja uma Eurocopa ideal se não for permitido cantar, se tivermos de usar máscara nas arquibancadas, se tivermos de respeitar o distanciamento, se não pudermos beber cerveja, se não for permitido ir a bares depois dos jogos… “.

Essas mesmas razões levaram Nassim Tirèche, que viajou à Rússia para a Copa do Mundo com o grupo Irrésistibles Français, a desistir.

“Eu ia viajar com os amigos com os quais costumamos viajar juntos, mas cancelei tudo. É muito complicado, devolvi todas os ingressos”, explica.

“Não se sabe se os torcedores vão ao estádio, que são os que dão o clima. Se só tiver metade da capacidade não vai ser igual. A gente vai também por todos os (motivos) extras: você visita lugares, encontra pessoas. Se você não pode sair à noite, não tem certeza de fazer encontros”, lamenta Nassim.

Nem mesmo a Federação Francesa de Futebol (FFF) pode responder às reclamações dos torcedores dos ‘Bleus’ por falta de informação. “Tudo muda constantemente”, resume a entidade. “A Uefa vai e vem dependendo da situação, não tem certezas, mas também não se pode culpá-la” porque a instância depende das decisões dos governos dos países das doze cidades que vão receber os jogos do torneio continental.

– “É uma bagunça completa” –

Para a primeira partida dos ‘Bleus’, em 15 de junho em Munique contra a Alemanha, “quanto mais nos aproximamos (da data) mais dizemos a nós mesmos que será impossível comparecer”, admite Fabien Bonnel, porta-voz dos Irrésistibles Français.

Para o segundo jogo da atual campeã mundial, em 19 de junho em Budapeste contra a Hungria, “nos dizem ‘torcida liberada, queremos 100%’, mas a Uefa quer impor uma certa distância nas arquibancadas para não aglomerar todo mundo. 100% é pouco realista”, prevê.

A Uefa publicou um documento para informar os torcedores sobre a sua política de venda de ingressos. Em seu site (www.uefa.com), são detalhadas as restrições e condições sanitárias de cada cidade, exceto Sevilha, que foi a última a entrar, substituindo Bilbao.

A entidade europeia também cancelou todos os ingressos do tipo ‘follow my team’, uma espécie de pré-venda que permite aos torcedores acompanharem sua seleção em caso de classificação para a segunda fase.

“É uma bagunça completa”, resume Fabien, que também devolveu todos os ingressos que havia comprado, já que para esse torcedor um torneio desse tipo é um motivo “para festejar e se vão me controlar a cada 10 metros ou vão me obrigar a fazer um teste todos os dias para poder entrar em um estádio, além de ter que ficar trancado em um hotel, não me apetece”.

Sem os torcedores, a Eurocopa pode perder seu caráter festivo e tornar o torneio mais triste do que o habitual.

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