É antiga a preocupação com a segurança dentro da indústria automobilística. É inclusive um dos temas mais estratégicos do setor. No entanto, a Covid-19 colocou o mundo de cabeça pra baixo.

FUTURO Google e Uber têm modelos de carros autônomos: ausência de motorista diminui risco de contágio (Crédito:Divulgação)

Quem pensaria, há três meses, que, hoje, a questão principal seria a desinfecção dos carros? A segurança agora precisa ir além dos freios, acelerador, pneus: é necessário matar o vírus. “A solução mais efetiva é não deixar o vírus entrar no carro”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Edson Orikaffa. “Embora existam formas eficientes de higienização, ainda não existe uma solução eficaz o tempo todo”.

O ideal seria um botão mágico que limpasse totalmente o veículo, algo similar à climatização. A higiene do sistema de ar-condicionado já é uma realidade, mas o setor não previu um antídoto para o coronavírus, um acessório capaz de desinfectar o veículo automaticamente.

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Como ainda não há uma solução automatizada, a indústria tem recorrido a soluções de higienização com maior poder de desinfecção. O diretor de marketing da Autoshine, Kazuo Matsui, diz que a empresa se apressou com a demanda crescente e desenvolveu um produto a base de álcool 70 e gás propelente para a desinfecção dos carros. Ainda está em fase final de testes, mas promete eliminar 99,9% dos micróbios, inclusive o coronavírus. “A empresa já fazia a pesquisa por atender montadoras e empresas de aplicativos”, explica Matsui. O produto funciona com o acionamento de uma válvula que dispara o aerosol por oito minutos. A Autoshine atende a montadora Honda. O produto também será vendido no varejo em breve e custará cerca de R$ 30,00 para o consumidor final.

A Volkswagen está desenvolvendo um filtro que utiliza como matéria-prima o mesmo material das máscaras hospitalares N95. “ideia é acoplar o filtro em todo o carro como uma peça obrigatória e proteger ainda mais o consumidor”, afirma o diretor de pós-venda da Volkswagen, Daniel Morroni. Segundo ele, é importante desinfectar também os espaços comuns dentro das concessionárias. “As pessoas precisam se sentir seguras, o mundo mudou e já estamos utilizando desinfetantes hospitalares para garantir mais segurança”, diz. A montadora Ford apresentou ao mercado um serviço de limpeza com peróxido pronto uso da empresa 3M. O produto já está liberado pela Anvisa e garante ação contra bactérias, fungos e vírus. O produto também é utilizado para a desinfecção de UTIs. As recomendações de limpeza para quem ainda não tem acesso aos novos produtos é higienizar painel, bancos, volante, alavanca de câmbio, as superfícies, esvaziar lixeira, nunca deixar lenços e máscaras e, em especial, fazer a limpeza dos filtros de ar-condicionado.

O acesso à alta tecnologia no Brasil costuma ficar a reboque de mercados mais desenvolvidos. O grupo Mopar, que representa as marcas Fiat e Jeep informou que algumas tecnologias ainda não chegaram ao Brasil, mas logo chegarão. “Na Europa, por exemplo, estamos lançando um filtro de ar para a cabine de alto desempenho, um purificador de ar para o interior do carro, mas que pode ser usado em casa, e uma lâmpada de raios ultravioleta que elimina 99% das bactérias nas superfícies que mais tocamos, como volante, câmbio e bancos”, informa a Mopar. A empresa conta que está criando parcerias para deixar esses produtos mais acessíveis no País.

Mudança de comportamento

Sabe-se que um dos locais mais suscetíveis à proliferação do vírus é dentro do transporte público. Uma pesquisa feita na internet pelo Instituto Ipsos mostra que na China, depois da Covid-19, houve uma mudança significativa de interesse pelos carros. Agora, a maioria das pessoas (72%) pretende comprar carro próprio e ficar longe do transporte público, algo incomum dentro da lógica chinesa. Uma saída para o futuro é a utilização de carros autônomos. As empresas Google e Uber estão na frente e já têm protótipos que podem transportar passageiros sem necessidade de motoristas. O programa da Uber está suspenso por conta de um acidente fatal, envolvendo um pedestre na cidade de Tempe, Arizona (EUA), em março. A empresa Google tem tudo pronto, inclusive já teve testes aprovados na Califórnia. Sem a utilização de motoristas, os carros autônomos apresentam menores chances de contágio dos passageiros.

A ideia de uma cápsula protetora como no antigo desenho animado dos Jetsons toma forma mais clara com o coronavírus. O futuro anunciado pede que o distanciamento seja maior e a convivência em espaços compartilhados seja ainda mais restrita. Se depender da Covid-19, a tendência de valorização dos transportes públicos deve ser enfraquecida.

CUIDADOS Empresas oferecem soluções manuais de desinfecção com peróxido pronto uso e ozônio:
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