As instituições e valores têm-se deteriorado, desestruturando a lógica social. Hoje, as previsões econômicas e sociais tornam-se cada vez mais difíceis, uma vez que os sistemas se desestruturam sem que exista um modelo substituto. Uma época de transição, sem um destino certo.

Parece que todo o esforço feito a partir do Renascentismo, das ideias Baconianas do progresso, do processo político da Inglaterra a partir do século XVI, da Revolução Francesa, da Revolução Americana, da Revolução Industrial, e do período pós Segunda Guerra Mundial vai se esfacelando. Ao fim da Segunda Guerra, na reunião de Breton Woods, com a criação da ONU, do FMI e do Banco Mundial, foi estabelecido o paradigma para a maior estabilidade dos países, que hoje se dissipa. As instituições deixam de funcionar, com o empobrecimento da população, o acirramento político, e as limitações ecológicas. Cai a legitimidade dos organismos internacionais como a ONU, o FMI e o Banco Mundial. Aumenta a importância das organizações informais, como o G7, o G8, e G20, e o Fórum de Davos, embora conflitivas. Como diz Paulo Paiva no título de seu recente artigo, o “Século da Intolerância”, o extremismo toma conta, em visões turvas sobre o futuro.

O aumento da desigualdade econômica, a baixa representatividade política, e os limites impostos pela natureza ao homem são os condicionantes da ruptura, onde soluções individuais de poder se sobrepõem às formas coletivas de consenso. Segundo o World Inequality Report, de 1820 a 1980 as classes médias e de menor renda aumentaram sua participação no PIB dos países, numa tendência progressiva. A partir de 1980, entretanto, aumenta o percentual de participação do PIB dos mais ricos e diminui o das classes médias e dos mais pobres. Hoje, os 10% mais altos na pirâmide social obtêm 52% da renda, e os 50% mais baixos 8,5% da renda mundial.

Nos Estados Unidos, vemos Trump, com problemas perante a justiça americana, ser pré-candidato à Presidência, com chances significativas de eleição. No Brasil, Bolsonaro, pós-Presidência e pós tentativa de suposto golpe, e com problemas com a Justiça Eleitoral e junto ao STF, mantém-se com cerca de 30% do eleitorado em suas pretensões. No primeiro ano da Guerra da Ucrânia, o PIB da União Europeia cai em -3,5%; Ucrânia -19,5%; o PIB dos Estados Unidos aumenta em +9,5%; Rússia +22,2%; no desatino das guerras. Na Argentina, Milei é eleito na expressão do radicalismo, sem projeto que possa dar consistência à recuperação econômica do país.

Estamos em uma situação ímpar no mundo, onde tudo se deteriora sem a previsão do amanhã. Como diz Marshall Berman no título de seu livro, estamos em uma época em que “tudo que é sólido desmancha no ar”.