O ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enviou na segunda-feira 13 um ofício ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, em resposta aos comentários do militar, dentre eles o que acusa o Tribunal de não prestigiar adequadamente as Forças Armadas. Em tom excessivamente obsequioso, a meu ver, Fachin praticamente se desculpou por algo que não deveria e se justificou por aquilo que nem sequer precisaria estar sendo debatido. Ora, por que diabos os militares devem ser prestigiados fora de seu campo de batalha? – Perdoem-me os leitores pelo trocadilho.

Convidadas gentilmente – e indevidamente, novamente a meu sentir – a dar pitaco nas eleições, notadamente os processos de votação e apuração, as Forças Armadas, sob responsabilidade do general-ministro, arvoram-se a intenção de organizar o pleito, sob pena de mimimi infanto-juvenil e ameaças antidemocráticas. A instituição enviou noventa sugestões e questionamentos ao TSE. Teve respondidos e/ou acatados mais de oitenta. Mas especialmente um chama a atenção: aquele que ‘exige’ uma apuração paralela e simultânea, conforme desejo do presidente Bolsonaro, líder de uma campanha criminosa de difamação e suspeição das eleições.

É lamentável o papel que as Forças Armadas desempenham nesse desgoverno. Ocuparam milhares de postos no Executivo federal e alinharam-se às piores práticas durante o auge da pandemia de Covid-19

É lamentável o papel que as Forças Armadas desempenham nesse desgoverno. Ocuparam milhares de postos no executivo federal e alinharam-se às piores práticas durante o auge da pandemia de Covid-19. Não escaparam às tentações civis e superfaturam, de picanha a Viagra, sem contar a infame compra de próteses penianas de última geração. Para piorar o que já era ruim, embarcaram nos devaneios golpistas do atual inquilino do Planalto. Hoje, ninguém em sã consciência exime a Corporação de, no mínimo, conivência diante das reiteradas ameaças bolsonaristas. Não é exagero, portanto, dizer que a democracia brasileira encontra-se acuada pelo Exército, Marinha e Aeronáutica.

É estupefaciente assistir ao País de joelhos perante, senão todos, muitos militares imbuídos de ânimo antidemocrático. O Brasil, por enquanto, agarra-se às cordas, e se a sociedade civil organizada, o Congresso Nacional, o Judiciário, enfim, a parcela da população que preza o Estado democrático de Direito não partir para o contra-ataque, o nocaute poderá vir mais depressa do que o desejado por Jair Bolsonaro e seus asseclas golpistas.