“Há uma imposição intensa sobre nós, mulheres, de que a maternidade é uma obrigação. A maior injustiça está em ouvir que ‘ser mãe é algo sagrado e nobre’, pois isso acaba confinando as mulheres ao cuidado dos filhos, enquanto o mundo permanece dominado pelos homens”, refletiu a artista.
Zélia revelou que em momentos anteriores chegou a sentir culpa por não ter filhos, mas hoje vê essa escolha como uma das melhores de sua vida. “Sinto uma felicidade plena por não ter filhos, isso me traz tranquilidade. Ter um filho não é um troféu. Não tenho a necessidade de ver alguém com minha cara por aí, e isso é algo muito claro para mim. Acredito que a maternidade pode ser maravilhosa, mas exercito meu lado maternal com amigos e com as crianças que aparecem no meu caminho”, afirmou.
Na entrevista, ela também criticou o machismo que permeia a sociedade ao exigir que todas as mulheres sejam mães, enquanto os homens não recebem essa mesma cobrança. “A pressão é dura. Se você não se comporta como uma mãe ‘ideal’, logo é vista como insensível. E quantos pais abandonam seus filhos diariamente sem que ninguém sequer questione?”, finalizou Zélia Duncan.
Procurada pela IstoÉ Gente, Telma Abrahão, especialista em inteligência emocional e idealizadora da Educação Neuroconsciente, analisa o fato de a cantora Zélia Duncan e outras pessoas não terem o desejo de ser mães. Leia na íntegra!
“A fala de Vera Holtz abre espaço para uma discussão importante e, ao mesmo tempo, delicada. Compreendo e respeito profundamente o fato de nem toda mulher desejar ser mãe — e que isso não a torna menos mulher, menos completa ou menos digna. Mas também acredito que existe, sim, algo dentro de nós que anseia por vínculos, por pertencimento, por continuidade. Um ‘sim’ interno que tem mais a ver com o desejo de formar uma família, de se conectar com outro ser, de cuidar e ser cuidada — e isso pode se manifestar de diferentes formas, não necessariamente pela maternidade biológica.
O que acontece é que esse instinto, muitas vezes, é silenciado ou distorcido pelas dores da infância. A relação com a própria mãe, a ausência de cuidado, a negligência emocional, o medo de repetir padrões ou de não saber como fazer diferente podem construir uma barreira interna tão forte que a mulher acredita genuinamente que não quer ser mãe. E isso pode ser verdade — mas também pode ser um mecanismo de proteção.
Eu mesma, por muito tempo, não quis ter filhos. E só depois de um profundo mergulho na minha própria história é que entendi que esse ‘não’ vinha das marcas da minha infância, do medo de repetir aquilo que vivi, da falta de referência de uma maternidade segura e acolhedora.
Por isso, quando escuto uma mulher dizendo que não quer ser mãe, o que me vem à mente não é julgamento, mas curiosidade e compaixão. O importante não é querer ou não querer — o importante é saber de onde vem essa decisão.
É uma escolha consciente, livre, baseada em quem ela é hoje? Ou é uma decisão inconsciente, moldada por traumas, defesas e experiências não elaboradas?
A Educação Neuroconsciente nos ensina que muitas das nossas escolhas são respostas automáticas ao que vivemos na infância. Quando não revisitamos essas experiências com honestidade e profundidade, corremos o risco de viver protegendo uma ferida que nem sabemos que está aberta.
Então, sim, toda escolha é válida — mas toda escolha merece consciência. Especialmente aquelas que dizem respeito a gerar, cuidar e amar.”
Famosas que optaram por não ter filhos
Zélia Duncan não é a única personalidade que escolheu não ter filhos. Outros famosos que tiveram a mesma decisão. Confira!
Em outubro de 2021, Ana Paula Padrão aproveitou o Dia das Crianças para abrir o coração sobre a decisão de não ser mãe. “Hoje é dia das crianças e não há crianças em casa. Eu não tive filhos. E, acredite em mim, a vida sem filhos não é uma vida vazia. Até pensei em engravidar tempos atrás quando a idade soou o alerta agora ou nunca! Algumas tentativas fracassadas me fizeram, no entanto, compreender que eu estava inventando uma frustração que não existia mais”, escreveu a jornalista e apresentadora em seu perfil no Instagram.
“Eu não fui uma adolescente que sempre sonhou com uma casa repleta de filhos. No início da fase adulta também não pensei muito sobre o assunto. Diziam: uma hora o desejo chega! Não chegou”, completou.
Em entrevista desabafou à People, a atriz americana Jennifer Aniston desabafou que sofre a pressão social para ter filhos mesmo que já tenha deixado claro que optou por não ser mãe. “Às vezes, você não pode evitar os membros da família ou as pessoas mandando coisas dizendo: ‘O que é isso? Você vai ter um filho? Vai se casar?’ É tipo: ‘Oh, bom Deus, quando e quantos anos vocês vão levar para ignorar essa bobagem?'”, disse.
“Tenho um emprego que adoro, tenho pessoas na minha vida que são tudo para mim e tenho cachorros lindos. Eu sou simplesmente uma humana muito afortunada e abençoada”, concluiu a loira.
A jornalista Maju Coutinho, que é casada há 12 anos com Agostinho Moura, revelou que não se sentiu motivada a ter filhos. “Eu não tenho vontade de ser mãe, mas gosto de crianças, porque, às vezes, tem essa ideia que quem não quer engravidar não gosta de crianças. Não tem nada a ver. Eu gosto delas e elas gostam de mim”, afirmou à Rádio Globo.
“Mas é outro lance, não sei explicar muito bem. Não sinto vontade de ser mãe. É de dentro. A gente está bem tranquilo em relação a isso. Se for acontecer, tudo bem, um dia a gente pode ter. Mas não estamos apressados”, finalizou a apresentadora do ‘Fantástico’.
Em entrevista à jornalista Joyce Pascowitch em 2014, Patrícia Pillar falou sobre ter decidido não viver a maternidade. “Quis ter meus amigos, meu trabalho, fazer minhas viagens… Fui protelando e acabou que não rolou. Depois que escolho, não fico remoendo, nem olhando para os outros”, afirmou a atriz na época.
Ao participar do programa ‘Sem Censura’, comandado por Cissa Guimarães na TV Brasil, a atriz Vera Holtz, de 71 anos, falou sobre maternidade e explicou sua decisão de não querer ter filhos.
“Sempre, desde pequena, eu não queria ter filhos. Eu tinha 12 anos… A maternidade não é para mim. Eu não tenho o ‘sim’. Não faz parte da minha vida. Desde pequena, eu dizia: não existe instinto maternal. Isso é uma invenção social”, relatou Holtz.
Na ocasião, a veterana também lembrou das mulheres que não podem ter filhos em sua argumentação. “E vocês esquecem de quem não tem útero, de quem não pode ter filhos. Por que inventaram isso para a mulher? Por que rotular essa questão? Todo mundo quer colocar a gente numa caixinha, rotular, virar um produto… Eu nunca realmente acreditei nisso.”
“Eu acredito na maternagem, que cuida, que forma. E todos nós devemos ter muitas pessoas que a gente cuida”, completou.