A crise política se agrava a cada dia. O sistema político-jurídico edificado pela Constituição de 1988 vive seus últimos dias. Não consegue dar conta da complexidade da moderna sociedade brasileira e de suas contradições. O Estado democrático de Direito se transformou, por mais estranho que pareça, em uma trincheira onde se abrigam os adversários da República. E são muito bem protegidos. Pagam seus protetores com uma parte do quinhão desviado do Erário. À corrupção soma-se a desorganização da estrutura estatal, seu controle pelos inimigos dos cidadãos de bem e uma elite absolutamente descolada das necessidades nacionais.

O País está à deriva. As instituições estão em frangalhos. O amanhã se desenha como um cenário muito próximo do caos. A irresponsabilidade das elites chegou ao ponto máximo. Não há na história brasileira nenhum momento que se aproxima do atual. É a crise mais longa no tempo — no mínimo, desde 2013 — e mais profunda, atingindo os três poderes em todas as suas esferas. Uma fagulha poderá incendiar o País. Ao invés de se buscar o caminho da serenidade, do equilíbrio, da solução das contradições por meio do debate franco, aberto e democrático, há uma aposta no quanto pior, melhor.

A desmoralização da democracia caminha a passos largos. É vista por muitos brasileiros como responsável pela crise, pelas mazelas nacionais. Conquista históricas — como a dos direitos humanos — são transformadas em coniventes, da insegurança pública, quando deveriam ser entendidas como direito de todos os cidadãos contra as ações arbitrárias do Estado. Isso ocorre, vale destacar, pela manipulação do discurso pelos extremistas — de direita e de esquerda. Uns atribuindo responsabilidade pela violência, outros dificultando a ação repressiva mais que necessária. E no meio fica a população desprotegida e suscetível às falas dos inimigos da democracia.

Nada indica que esse panorama aterrador será enfrentado e vencido pelas eleições no próximo mês de outubro. A tendência é que a crise se mantenha ou aprofunde ainda mais.

Há uma clara fratura entre a elite e a sociedade civil. E ela aumenta com a permanência dos comportamentos anti-republicanos. Perdeu-se o receio — ou o medo — de que as instituições impediriam a ação dos bucaneiros do Erário. A complacência — algumas vezes, a conivência — das autoridades virou um comportamento rotineiro. Triste Brasil.

Há uma clara fratura entre a elite e a sociedade civil. E ela aumenta com a permanência dos comportamentos anti-republicanos