Carlos Decotelli demitiu-se há pouco do cargo de Ministro da Educação, sem de fato ter chegado a exercê-lo. É preciso cobrar do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência o seu quinhão de responsabilidade no episódio.

Se tivesse cumprido de maneira diligente a tarefa de analisar o currículo do candidato a ministro, o órgão comandado pelo general Augusto Heleno poderia ter abortado essa triste história.

Não era preciso cavar muito fundo. Em apenas cinco dias vieram à tona as informações que desconstruíram a carreira acadêmica de Decotelli: a tese de mestrado aparentemente plagiada; a tese de doutorado rejeitada pela banca avaliadora na Argentina; a pesquisa de pós-doutorado que não chegou a acontecer.

A incompetência do GSI não se dá sem consequências.

Decotelli não era um nome do grupo ideológico que impôs à Educação o desastroso anti-ministro Abraham Weintraub. Com sua queda, o grupo se assanha de novo para ocupar espaço. Nada de bom virá daí.

E talvez haja uma palavra a ser dita sobre o próprio Decotelli. Não se trata de desculpar as mentiras no currículo. Elas ferem os princípios básicos que regem a vida acadêmica, e vão cobrar um preço alto na carreira do professor.

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A imolação em praça pública, porém, poderia ter sido evitada. Nunca é um espetáculo agradável de se ver.

ATUALIZAÇÃO

O general Augusto Heleno publicou em seu Twitter uma mensagem contra os “desinformados”, dizendo que não cabe ao GSI verificar currículos de nomeados para altos cargos: “No caso de Ministros, cada um é responsável pelo seu currículo.” Isso só reforça o amadorismo com que o processo é conduzido. Tomemos o exemplo dos Estados Unidos. Desde 1971 a presidência americana mantém um órgão encarregado de escrutinar a vida pregressa de candidatos a ocupar cargos na administração. Hoje ele é chamado de Presidential Personnel Office (PPO). Ao longo dos anos, esse escritório incorporou os padrões mais altos de recrutamento, recomendados por experts e também adotados na iniciativa privada. Nem é preciso dizer que conferir o histórico educacional faz parte desses padrões, numa combinação de métodos automatizados e consultas diretas às universidades mencionadas no currículo. A ideia que esse tipo de checagem é desnecessária só surge mesmo em administrações altamente ideologizadas como a de Bolsonaro – e a de Donald Trump, que reduziu a um terço o pessoal do PPO.


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