CONVENÇÃO Deputado Fred Costa chama presidente do Patriota de “moleque”, antes de abandonar a reunião (Crédito:Divulgação)

No mesmo momento que o Patriota enfrenta a sua maior crise interna, o partido anuncia a filiação do senador Flávio Bolsonaro e abre as portas para o ingresso do presidente da República. A convenção realizada em 31 de maio revelou profundos conflitos internos da sigla. Um grupo de dirigentes, entre eles o deputado Fred Costa, deixou a convenção no meio da votação. “Não aja como um moleque”, disse Costa para o presidente da legenda, Adilson Barroso, que está empenhado na atração de Bolsonaro para os seus quadros. O presidente do Patriota está utilizando a filiação de Bolsonaro para passar por cima dos trâmites legais necessários ao funcionamento do partido e expurgar seus desafetos. O mandatário se encontrou com Barroso na terça-feira, 1º, no Palácio do Planalto e disse que o acordo com o partido “está quase certo”. Mas fez uma metáfora: “é como casamento. Tem que ser planejado, senão dá problema”. O presidente do Patriota, porém, diz aguardar a filiação dentro dos próximos 15 dias.

A perseguição aos filiados que não apoiarem o presidente será imediata. Barroso já declarou que quem ficar terá de “fazer campanha para Bolsonaro”. Essas iniciativas já acontecem em vários estados. Onde os parlamentares estão alinhados com adversários do Planalto o expurgo será automático. Recentemente o Patriota abrigou membros do MBL na legenda. O posicionamento contrário ao mandato de Bolsonaro é público. O deputado estadual, Arthur do Val, condenou as negociações. “Eu vejo como um desastre”, disse o deputado. O vereador paulistano, Rubinho Nunes, classificou a articulação como “uma grande palhaçada” e afirmou que “Bolsonaro comprou um partido”.

O racha na cúpula do Patriota é tamanho que o secretário-geral da agremiação, Jorcelino Braga, disse à ISTOÉ que foi encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma ação contestando a convenção que anunciou a filiação do 01. Braga afirmou o presidente do Patriota mudou integrantes do diretório nacional para poder ter o controle total do partido. “Barroso não tinha maioria e tirou quatro pessoas nossas e incluiu onze pessoas ligadas a ele”, disse Braga. O secretário-geral acusa o presidente de usar a senha do sistema no TSE para fazer as alterações de maneira monocrática. O saldo da reunião da legenda é vexatório, com pedido de anulação da convenção na Justiça.

Bolsonaro é cobiçado por vários partidos. A filiação do presidente pode atrair políticos com mandatos e mais verba partidária. O senador Flávio enfatizou isso em vídeo divulgado nas redes sociais. O primogênito do presidente lembrou a passagem de Bolsonaro no PSL: “um partido que não tinha quase nada, e se tornou um dos maiores do Brasil”. Além de Patriotas, PP, PSL, PTB ainda estão no páreo. A dificuldade está na mania de perseguição de Bolsonaro. Parlamentares e assessores que conviveram com o presidente dizem que ele é neurótico e nunca sente confiança nos presidentes dos partidos. Por isso, a primeira exigência é ter controle ilimitado dos diretórios nacionais. O cientista político Rubens Figueiredo enxerga fatores positivos para a filiação do presidente, mas pondera: “a instabilidade do seu governo promove um ambiente de incertezas para os agrupamentos”.

“Não existe a possibilidade de estarmos junto no mesmo projeto político” Arthur do Val, deputado

Tudo que está à volta do presidente Bolsonaro tem origem semelhante: tramoias, esculhambações e esquemas. A filha do presidente do Patriota, Fabiana Barroso, é vice-prefeita em Barrinha (SP), e a cidade recebeu, por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional, R$ 15,8 milhões em emendas extras. O Patriota vive como uma legenda que tem dono. O presidente do partido destinou para si próprio e familiares R$ 1,15 milhão do fundo partidário utilizados no pagamento de salários: filha, irmãos, cunhada, sobrinhos, a esposa e a ex-mulher. Só em 2020, os vencimentos dele foram de R$ 225 mil. As informações não são nada patrióticas.

As relações entre o clã Bolsonaro e o partido são antigas. A sigla tinha o nome de PEN e aguardou até o último segundo a filiação do presidente. Houve, inclusive, uma cerimônia para anunciar a filiação do então deputado federal, Jair Bolsonaro, em agosto de 2017. O presidente recuou e frustrou Barroso, que hoje tem que engolir a seco para manter o diálogo com o presidente. Entretanto, em janeiro de 2018, ele fez um desabafo. “Depois de ter estuprado o PEN, o que espero dele agora é o casamento com o Patriota”.

Desmanche dos Partidos
Novos arranjos são feitos para planejar a eleição de 2022

Há uma antecipação clara do processo eleitoral de 2022. Neste cenário, os partidos passam por um verdadeiro desmanche. Alguns para criar forças, outros porque não conseguem manter seus quadros. A deputada Tábata Amaral conseguiu, por meio de ação no TSE, se desfiliar do PDT e manter o mandato. Ela disse que um dos motivos para sair da sigla foi a “quebra de expectativa e confiança”. Fato é que a deputada não apresenta um alinhamento político ao postulante à presidência, o ex-governador Ciro Gomes. Ele vê outros correligionários fazerem reiteradas críticas ao presidenciável, como é caso do deputado Túlio Gadelha. O pernambucano não confirma que sairá do partido, mas a aproximação com o PT aparece em suas publicações ostensivamente.

MUDANÇA Deputada Joice Hasselmann discute filiação ao PSDB (Crédito:FUTURA PRESS)

No PSL, o assédio de Bolsonaro causa desconforto. Muitos parlamentares se recusam a apoiar o presidente e o PSDB já teria uma aproximação com a deputada Joice Hasselmann e o deputado Júnior Bozzella, que estão sendo empurrados para fora da legenda. O DEM convive com o mesmo fantasma. O deputado Rodrigo Maia, desafeto do presidente, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, partem para o confronto com o Planalto. Garcia já anunciou que será candidato a governador e está filiado ao PSDB. No PTB, a atuação de Roberto Jefferson, em favor de Bolsonaro, causou grandes estragos. O vice-governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Júnior, anunciou a saída, junto com seu grupo, e deve concorrer à sucessão no estado pelo PSDB. Nem só de novas filiações caminham os tucanos. O ex-governador Geraldo Alckmin pode sair e negocia com DEM e PSD.