A guerra aberta do blogueiro Allan dos Santos com o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, escancara uma fissura no bolsonarismo que a partir de agora só vai se alastrar. Nos últimos dias, pelas mídias sociais, Santos chamou Camargo de “moleque de merda” e ouviu que era um “oportunista fracassado”. Tudo porque o presidente da Fundação Palmares foi dizer, referindo-se a Olavo de Carvalho, pomo da discórdia da crise ideológica, que Jair Bolsonaro “nunca precisou e jamais precisará de um ‘professor’” de conservadorismo. Olavo ficou furioso e afirmou que “esta é a coisa mais cretina que um bolsonarista já escreveu”. A partir daí, Santos usou sua conta no Telegram, a que lhe resta, já que está excluído do Twitter, e passou a ofender o ex-colega. “O Brasil pariu uma horda de analfabetos (…). Esse Sérgio Camargo é um deles. A idiotice que falou sobre o Prof. Olavo de Carvalho é a prova de que, se não fosse o carguinho dele, ninguém saberia quem é esse infeliz”, disse.

A briga é séria e dá publicidade para um problema que aflige a base ideológica do governo. Mostra também que nuances do pensamento de ultradireita estão sendo colocados em discussão. A grande cobrança de Olavo é que foi usado como “poster boy” por Bolsonaro para “se promover e eleger”, como se fosse um grande puxador de votos. Sua insatisfação, na verdade, é que o governo não está sendo direitista o suficiente e já não lhe dá a mínima bola. Entre ontem e hoje, disparou a dizer pérolas como “Que é que a tropa bolsonarista fez, até agora, para que as universidades (mães da zé-lite) produzissem menos comunistas. Resposta: porra nenhuma” e “O capitalismo é padrinho e protetor do comunismo” e, finalmente, tentando limpar sua barra de maneira lacônica, que “Bolsonaro é o melhor gerente administrativo que este país já teve. Ele é tudo isso e só isso”, mas o mal-estar permanece.

Se o bolsonarismo pode ser classificado como uma massa política amorfa de extrema-direita em que se disputa o primado da ignorância, o que se vê nas suas hostes é uma luta intestina entre ser mais ou menos conservador. É esse o dilema que aflige Camargo e Santos e que está exposto no governo, que só não consegue ser pior e mais reacionário porque enfrenta uma oposição democrática e os limites da realidade. Apesar do estrago institucional que Bolsonaro vem fazendo, o guru acha que é pouco e que os comunistas já deveriam ter sido enxotados das universidade. Refugiado nos Estados Unidos, ele diz o que quer, assim como Allan dos Santos, que segue promovendo seu discurso asqueroso. Se o bolsonarismo se inspira em governos totalitários do século passado, o que se percebe é que o olavismo está à direita de Gengis Khan.