O Brasil vive uma profunda crise das elites. Sem exagero, é possível afirmar que nos últimos cem anos – tomando como ponto inicial os trepidantes anos 1920 – este é o momento mais grave. É difícil encontrar apenas um motivo que poderia explicar este fenômeno. Também não é possível atribuir a uma crise das lideranças ocidentais, típica generalização tão ao gosto de alguns acadêmicos americanos e europeus e que produzem livros de sucesso, mas com frágil sustentação teórica e histórica.

Com a redemocratização de 1945 surgiu no Brasil, pela primeira vez, uma democracia de massas. O eleitorado cresceu exponencialmente com a migração Nordeste-Sudeste e com o deslocamento campo-cidade. Foi o momento da emergência dos célebres líderes populistas (Ademar de Barros, Jânio Quadros, entre outros), mas também de quadros intelectualizados nos principais partidos da época, tanto na União Democrática Nacional, Partido Social Democrático, Partido Trabalhista Brasileiro, Partido Libertador ou no Partido Democrata Cristão. A consolidação da Justiça Eleitoral, o voto secreto, a participação das mulheres como eleitoras e candidatas nas eleições, a massificação do título de eleitor – condição para ter registro em muitos empregos – permitiu um amplo debate – o mais qualificado da história republicana. O golpe militar de 1964 acabou interrompendo este processo.

O bipartidarismo limitou a renovação da elite política. E as cassações impediram o surgimento de novas lideranças. A necessidade de estabelecer limites ao exercício dos mandatos empobreceu o debate político. Com a anistia e a reforma partidária de 1979, houve o retorno de antigas lideranças do pré-1964 ao País e a criação de cinco partidos políticos.

A necessidade de estabelecer limites ao exercício dos mandatos empobreceu o debate político

O otimismo político marca os anos 1980 em um cenário com graves problemas econômicos. O segundo turno das eleições presidenciais de 1989 já prenunciava uma relativa falências das elites mais tradicionais da política nacional. Afinal, Fernando Collor e Lula eram outsiders.

As mazelas deste século – e foram muitas – podem ter afastados possíveis novos quadros para a política nacional. A estagnação econômica associada aos inúmeros casos de corrupção, a anarquia partidária, a ausência de uma elite intelectual vinculada ao estudo dos grandes problemas nacionais, a dificuldade de entender as modificações oriundas da globalização e suas relações com o Brasil, deixou o País à deriva. Isto pode explicar, em parte, Jair Bolsonaro, um meliante, ter chegado à Presidência da República.