Colaboraram Iara Lemos e Marcos Strecker

Às vésperas da retomada dos trabalhos no STF no próximo dia 1º, o presidente do tribunal, Luiz Fux, prepara-se para direcionar a pauta ao atendimento das emergências provocadas pela pandemia. O governo da Bahia, por exemplo, ingressou com uma ação para comprar a Spunik V, apesar da negativa da Anvisa. Outras demandas, como a crise dos insumos e o caos em Manaus, também mobilizaram Fux no final do recesso. Mas o que tirou a calma do magistrado foram os ataques de Bolsonaro à instituição. O mandatário disse ter ficado de mãos atadas no combate à pandemia por causa das ações da Corte, que deram força aos estados e municípios. Fux gostaria de ser mais duro, mas só divulgou nota dizendo que o mandatário “faltou com a verdade”. A volta das férias será quente no STF.

Virtual

Independentemente da pauta, Fux já decidiu que o Supremo permanecerá funcionando no primeiro semestre ainda com reuniões por videoconferência. Isso pode mudar depois de julho, caso as vacinas comecem a reduzir os danos da Covid. A preocupação no STF vem do fato de que a maioria dos ministros tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco.

Bebidas

Estará em discussão também se a proibição da venda de bebidas nas estradas deve ser mantida ou não. Outra questão que Fux levará ao plenário é o chamado “direito ao esquecimento”. Familiares de uma jovem assassinada barbaramente no passado pedem indenização a uma emissora de TV por ela ter relembrado o crime em 2004 sem autorização da família.

Quando o crime compensa

A ex-deputada Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB que já esteve preso por corrupção no mensalão, acaba de ser contratada como assessora parlamentar do líder do partido na Assembleia Legislativa de São Paulo, o bolsonarista Douglas Garcia. Ela foi presa em setembro por desvio de verbas no governo do Rio, enquanto Garcia é investigado no STF no inquérito das fake news.

Retrato falado

“Bolsonaro é perverso” (Crédito:Marco Ankosqui)

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta diz que as chocantes cenas da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus poderiam ter sido evitadas. “Oxigênio não acaba da noite para o dia. O desabastecimento estava sendo relatado há um mês. O que houve foi falta de planejamento e total desinteresse do governo federal.” Mandetta assegurou que ele já havia informado Bolsonaro, quando ainda era ministro, que o problema poderia acontecer no Brasil. Nada foi feito.

Fiasco mundial

Que Bolsonaro está destruindo a imagem do Brasil no exterior já é sabido, mas a recente trapalhada envolvendo a compra fracassada de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca na Índia rebaixou o País definitivamente à condição de pária internacional. Para tentar passar a perna em Doria, que iniciaria, como realmente iniciou, a vacinação dos paulistas com a Coronavac, Bolsonaro mandou fretar até um avião para ir à Índia buscar os imunizantes, mas deu com os burros n’água. O primeiro-ministro Narenda Modi, que já havia enviado cargas de cloroquina ao Brasil, desta vez deu uma banana a Bolsonaro. A Índia vai exportar vacinas, mas deixou o Brasil de fora.

Venezuela

Pior foi ver a Venezuela enviar 5 caminhões com oxigênio para abastecer os hospitais de Manaus, onde brasileiros morrem sufocados. Vale lembrar que Bolsonaro já tripudiou da Venezuela, país que um dia pensou em invadir para desestabilizar Maduro só para alimentar os sonhos intervencionistas de Trump.

Toma lá dá cá

Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado (Crédito:Divulgação)

Apoiar o candidato do DEM à presidência do Senado afeta a imagem do PT?
O Rodrigo Pacheco (DEM-MG) tem uma posição garantista em todas as questões penais e jurídicas. Defende a presunção de inocência, uma série de princípios constitucionais muito caros para nós. Outra coisa é a defesa dele pela democracia e autonomia dos deveres republicanos.

Mas Pacheco é o candidato do presidente Jair Bolsonaro. O PT está apoiando o candidato do governo?
Não, não. Aí não. De jeito nenhum. Essa pergunta é muito pobre. Se for por essa pobreza me recuso a responder. Aí é uma armadilha que não vou entrar.

Considera que haverá racha no PT?
Não acho que terá racha. O partido defendeu o Pacheco por unanimidade.

A vez dos nanicos

Enquanto a disputa pela presidência da Câmara segue polarizada entre Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL), outros deputados, sobretudo de pequenos partidos, lançam-se candidatos a presidir a Casa. É o caso de Luíza Erundina (foto). Pertencente ao PSOL de Boulos, ela diz ter 10 votos, mas precisaria ter, no mínimo, 257. Sem chance alguma.

Adriano Vizoni

Dissidentes

Outros deputados se lançaram mais para marcar posição contra a decisão de suas bancadas. É o caso de Fábio Ramalho (MDB-MG), que ficou descontente com a candidatura de Rossi. Em 2019, ele também disputou a presidência, e fez 66 votos. Outros, como Alexandre Frota (PSDB) e capitão Augusto (PL-SP), só têm o próprio voto.

Cadê a logística?

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Ao constatar a inércia do governo diante do colapso na saúde no Amazonas, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) pediu que a embaixada dos EUA no Brasil enviasse aviões americanos para o transporte de cilindros de oxigênio a Manaus. Os americanos disseram que enviariam, mas Pazuello dispensou a ajuda.

Rápidas

* Rodrigo Maia tentou convocar a Câmara extraordinariamente em janeiro a pretexto de discutir a crise na saúde, mas desistiu: quatro dos sete membros da mesa diretora são bolsonaristas. Eles temiam que Maia abrisse espaço para a oposição defender o impeachment.

* Maia, porém, já declarou que caberá ao seu sucessor na presidência da Câmara o papel de colocar um pedido de impeachment contra Bolsonaro na pauta. Ocorre que nem Lira e nem Baleia Rossi estão dispostos a isso.

* Simone Tebet (MDB-MS) anda irritada com o fogo amigo dentro do seu partido. Seus aliados dizem que há um grupo que tenta minar sua candidatura à presidência, inclusive com a produção de relatórios com informações falsas.

* A votação para a eleição do novo presidente da Câmara será feita presencialmente com os 513 deputados e aproximadamente três mil assessores: um prato cheio para a Covid. Rossi queria votação virtual. Lira venceu.