Poucas horas depois de mostrar o dedo do meio a manifestantes contrários à postura negacionista de Bolsonaro em Nova York, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, testou positivo para a Covid-19. Essa grande “ironia do destino” talvez guarde nas entrelinhas uma mensagem: de que Queiroga deixou de lado a condição de médico para vestir o figurino de puxa-saco do presidente, completamente desmoralizado no cenário internacional. Ao invés de ofender as pessoas que protestavam contra o mandatário, Queiroga deveria convencê-lo a se vacinar. Afinal, Bolsonaro foi o único chefe de estado que não se imunizou dentre todos os demais que participaram da Assembleia Geral da ONU.

Desde que chegou ao comando da pasta, o cardiologista Queiroga foi, dia após dia, permitindo que o discreto discurso científico que mantinha no início de sua gestão desse lugar ao pensamento retrógrado do presidente. O ministro passou a demonstrar que seu emprego vale mais do que a responsabilidade que carrega como médico. Acabou contribuindo para a coleção de vergonhas que as autoridades brasileiras passaram perante o mundo nos últimos dias.

A mando do capitão, Queiroga mudou as regras de imunização de adolescentes, recomendando que os menores de 18 anos, sem comorbidades, não fossem vacinados. Chegou a questionar a eficiência das vacinas, que a ciência já está comprovou como um das alternativas para tirar o planeta da pandemia.

Como ministro, o cardiologista também não faz o dever de casa: é incapaz de sequer orientar Bolsonaro a usar máscara contra o vírus. Aliás, houve um tempo em que, quando questionado sobre as falas do mandatário a respeito da obrigatoriedade do uso da proteção facial, Queiroga simplesmente tergiversou. A julgar que estamos falando de um médico, sua postura é, no mínimo, irresponsável, tanto quanto a do presidente.

Na terça-feira, ao revelar nas redes sociais que estava infectado pela Covid, Queiroga disse ter sido contaminado mesmo depois de ter tomado a vacina. E não perdeu a chance de repetir a cartilha bolsonarista, questionando também o imunizante que tomou: a Coronavac, conhecida no Planalto como a “vacina do Doria”. Mas, a verdade sempre prevalece e no caso de Queiroga veio da pior forma possível: se contaminando ao não seguir somente os mandamentos da ciência, deixando-se levar pelas práticas negacionistas do chefe.