SUCESSOR O presidente do MDB, Baleia Rossi, conta com apoio de Michel Temer (Crédito:Alan Marques)

A contabilidade do 1o turno das eleições municipais significou um passo importante para a disputa presidencial de 2022. O governador João Doria deu um passo importante para essa corrida, ao colocar seu afilhado Bruno Covas no 2o turno em São Paulo, enquanto o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula foram os grandes perdedores no processo. É verdade que ainda faltam os resultados do pleito no domingo, 29, mas os votos para os candidatos a prefeito no 1o turno marcaram o caminho da sucessão. A coalizão dos partidos de centro que é costurada nos bastidores por Doria, alcançou mais de 63 milhões de votos. O total de eleitores que votaram, em torno de 102 milhões, significa que a frente liderada pelos partidos aliados a Doria em São Paulo, como PSDB, MDB e DEM, teriam aproximadamente 60% dos votos em uma eventual união em 2022.

No quintal das articulações políticas dos tucanos, Doria tem como vice o democrata Rodrigo Garcia, que já foi muito próximo de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. Kassab ocupa o cargo de secretário-chefe da Casa Civil no governo paulista, mas está afastado. Ele é outro que pode ser atraído para o movimento articulado pelo tucano. O DEM é outro partido que avançou muito no País. Para a cientista política Ariane Roder, “o DEM é uma das grandes revelações destas eleições”, afirmou. O seu presidente nacional, Antonio Carlos Magalhães Neto, prefeito de Salvador, tem aprovação de 80% e conseguiu eleger no primeiro turno o seu sucessor Bruno Reis, com 64% dos votos. A composição para a chapa de Bruno Covas em São Paulo, também faz parte desse contexto. O escolhido para ser seu vice, o vereador Ricardo Nunes (MDB), foi uma escolha feita com muito cuidado para ampliar o raio de influência de Doria. A vitória parcial de Covas no 1o turno, com 32,85% dos votos, foi essencial dentro dessa estratégia. As pesquisas indicam que Covas vence o 2o turno com 58%. O governador paulista também articula a candidatura do deputado Baleia Rossi para a presidência da Câmara. Rossi é o presidente nacional do MDB e tem grande proximidade com o ex-presidente Michel Temer. O partido foi o que mais elegeu prefeitos agora (775 no 1o turno).

Fortalecidos, alguns partidos de centro, como PL, PP e PSD, estão na base do presidente Bolsonaro. No caso do PSD de Kassab, ele já foi ministro de Dilma e Temer. Embora ultimamente, esteja mais próximo do atual governo, uma vez que o Ministério das Comunicações está sob o comando do deputado Fábio Farias (PSD-RN). Essa postura pragmática é comum num País com tantos partidos. A tendência é a união de todos eles em volta de Doria para a formação de uma frente anti-Bolsonaro. O governador mantém ainda contatos com o apresentador Luciano Huck, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o ex-ministro Sergio Moro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

No lado oposto das articulações, Bolsonaro amargou uma derrota avassaladora. O cientista político da universidade Mackenzie de Brasília, Márcio Coimbra, diz que o mandatário falhou. “Dos 59 candidatos que apoiou, elegeu apenas 9. E sua ex-esposa ficou em um distante 229o lugar”. O caso mais emblemático é o do deputado Celso Russomano, que após anunciar o apoio do presidente, só perdeu votos e terminou em quarto lugar, fora do 2o turno. A surra poderia ser maior se Bolsonaro não tivesse liberado o auxílio emergencial de R$ 600 aos mais pobres. No entanto, esse auxílio tem dias contados e não servirá de muleta ao presidente na próxima eleição. O PTB de Roberto Jefferson, também perdeu muito. A sua filha Cristiane Brasil, foi presa e retirou a sua candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro às vésperas da eleição.

A rejeição da população à polarização eleitoral foi o principal motivo para reprovação do PT. O cientista político Márcio Coimbra diz que o “bolsonarismo e o petismo fazem parte de uma guerra que o eleitorado está cansado de escolher”. Ele afirmou ainda que a prisão do seu maior líder, o ex-presidente Lula, deixou o partido desorientado. “O PT se perdeu dentro dele mesmo” disse. O que, provavelmente, mais marcou os petistas foi a derrota em São Paulo. Jilmar Tatto ficou em 6o lugar e viu a militância abandonar a sigla para apoiar Guilherme Boulos (PSOL). Em São Bernardo do Campo, berço do petismo, o ex-prefeito Luiz Marinho foi vexatoriamente derrotado no 1o turno, com 67% dos votos, pelo tucano Orlando Morando.

O PT tem perdido prefeituras em todas as eleições. Foi de 630 em 2012, para 179 agora. Também com um passo atrás na corrida para 2022 aparece o ex-governador Ciro Gomes (PDT). Seu partido não emplacou a candidata Delegada Martha Rocha, no Rio de Janeiro, e ainda perdeu 23 prefeituras no País. Mais do que os resultados das urnas, há o sentimento nas ruas mostrando que as opções extremistas e que revigoraram a guerra ideológicas serão excluídas no futuro. A articulação para 2022 começou a pleno vapor.

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