São dois museus, duas histórias de abandono e uma grande expectativa de que ambos estejam restaurados total ou parcialmente até 2022, quando se celebra o bicentenário da Independência. O primeiro é o Museu Paulista, localizado no bairro do Ipiranga, em São Paulo, inaugurado em 1895 e que está fechado para o público, por causa de sérios problemas estruturais, desde 2013. O outro é o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído por um incêndio em setembro de 2018 e até agora em ruínas. Por serem dois dos principais acervos do Império, o que se espera é um esforço dos governos e de toda a sociedade para colocá-los de pé novamente o mais rápido possível. A reforma do Museu Paulista, que custará R$ 139, 5 milhões e já foi assegurada pela Lei Rouanet, começou em outubro de 2019 e conta com forte apoio da iniciativa privada. Já para o Museu Nacional, o futuro é mais incerto: o início do restauro está previsto para o próximo mês de abril e não há previsão de reinauguração. Os custos das obras podem chegar a R$ 300 milhões e o dinheiro necessário para a primeira fase das obras deve vir dos cofres do governo federal.

A baixa velocidade de recuperação dos dois museus mostra o velho descuido brasileiro com o patrimônio histórico e com os monumentos da cultura. Nos dois casos, há atrasos nas obras de restauro por causa da demora na obtenção das verbas. Além dos edifícios terem grande interesse histórico, seus acervos também são de grande importância. Por serem ambos prédios tombados, a restauração exige cuidados especiais e um minucioso trabalho técnico. O Museu Nacional, a mais antiga instituição científica do País, fundada por Dom João 6º, em 1808, tinha um acervo de antropologia e história natural com mais de 20 milhões de itens, dos quais a maior parte se perdeu no incêndio, incluindo a importante coleção de múmias egípcias. O crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano já encontrado na América do Sul, com 11,5 mil anos, também foi destruído e exigirá um grande esforço de restauração. No Museu Paulista, que teve seu acervo espalhado por vários prédios da USP, responsável pela administração da instituição, um dos principais destaques é o quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, com 32 metros quadrados de área, que começou a ser restaurado no final do ano passado.

ACERVO Por serem prédios tombados, as obras no Museu Paulista e no Museu Nacional (acima) exigem um minucioso trabalho técnico (Crédito:Divulgação)

Em busca de verbas

Na primeira etapa de reconstrução do Museu Nacional, instalado no chamado Paço de São Cristóvão, serão recuperados os ornatos nas salas nobres do prédio, antiga residência da família imperial. Também serão restauradas as estátuas das musas, localizadas no alto do prédio, e o Jardim das Princesas, onde brincavam as crianças da família real, inclusive Dom Pedro II. Numa segunda fase, está prevista a construção de seis novos pavilhões anexos ao prédio principal que abrigarão mais de 20 laboratórios. O Museu Paulista já conseguiu, pela Lei Rouanet a totalidade da verba junto à Sabesp, Itaú, EDP, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN, EMS, Vale, Banco Safra, Honda e Pinheiro Neto Advogados. A projeção é que depois da reforma o número de visitantes, que era de 350 mil por ano, pelo menos dobre. O Museu Nacional, que é administrado pela UFRJ, recebeu quase 200 mil visitantes em 2017, mas as expectativas de reinauguração são mais baixas. Mesmo assim, o diretor da instituição, o paleontólogo Alexandre Kellner, espera ver uma pequena parte do museu já funcionando em 2022.