Abrindo hoje seu programa de exposições da temporada deste ano, a galerista Nara Roesler presta também homenagem a um dos pioneiros da arte cinética no mundo, Abraham Palatnik, que completa 92 anos no próximo dia 19. Desses, o artista nascido em Natal, Rio Grande do Norte, dedicou 70 à arte, ele que parecia destinado à engenharia mecânica – Palatnik, durante a 2ª Guerra, viveu na Palestina e pesquisou o uso mecânico das cores associadas ao movimento. Foi justamente dessa pesquisa que derivou uma série de aparelhos cinecromáticos e objetos cinéticos apresentados em bienais internacionais – e ele participou de várias, tanto em São Paulo (oito vezes, desde a primeira, em 1951) como em Veneza (1964).

Na exposição que será aberta neste sábado, 8, os motores que dão vida a seus objetos cinéticos foram trocados por pinturas que transmitem igualmente a impressão de movimento, como as que ilustram esta página. São obras resultantes de outra pesquisa desenvolvida por Palatnik, que sempre se considerou fundamentalmente um pintor. Essa série (W) teve início em 2004 e partiu de uma tentativa de criar uma pintura que obedecesse a um processo não manual, realizada por meio da alta tecnologia – e o uso do corte a laser para o processo composicional é apenas um exemplo, aliado à mais recente experiência, que combina tinta acrílica com tinta esmalte dourada, cruzando diferentes materiais e efeitos óticos.

Parece evidente que Palatnik sempre teve a pintura como referência, mesmo ao criar seus aparelhos cinecromáticos mecanizados (já na 1ª Bienal, em 1951, ele apresentou um deles). E ela volta a afirmar sua primazia nas obras em acrílica sobre madeira da chamada série W, que, de certa forma, revisitam as telas em óleo sobre ripas de madeira do final dos anos 1970 e começo da década de 1980 – que registram experiências radicais com cartões e metais cortados com precisão cirúrgica.

Ainda que tanto essas obras do passado como as pinturas do presente sejam exemplo do uso dinâmico da cor, é difícil enquadrar o trabalho de Palatnik no movimento de arte cinética, como reconheceu o historiador de arte e professor britânico-brasileiro Michael Asbury. O artista, justificou, “escapa entre os interstícios das categorias”. Seu vínculos com as vanguardas neoconstrutivistas surge mais da relação intelectual com o crítico Mário Pedrosa e com o pintor Ivan Serpa do que da afinidade com movimentos – e, considerando o que apresentou já na primeira Bienal de São Paulo, a questão abstracionista já não era mais problema para Palatnik, cujas primeiras experiências em pintura foram retratos, naturezas-mortas e paisagens nada memoráveis. Certamente não será o caso das pinturas mais recentes. Elas são iluminadas, em mais de um sentido.

Serviço:

ABRAHAM PALATNIK

GALERIA NARA ROESLER

AV. EUROPA, 655, TEL. 2039-5454.

2ª A 6ª, 10H/19H. SÁB., 11H/15H.

ABRE SÁB. (8), ÀS 11H.

ENTRADA GRATUITA. ATÉ 14/3

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.