Sultan Al Jaber, presidente da COP28 em Dubai, está “cautelosamente otimista” sobre o sucesso da cúpula anual do clima organizada pelas Nações Unidas: “a COP mais importante” desde o Acordo de Paris de 2015, disse neste sábado (25) o diretor da petrolífera Adnoc à AFP.

PERGUNTA: Cinco dias antes da abertura da COP28 em Dubai (30 de novembro a 12 de dezembro), o quão distantes estamos de um consenso?

RESPOSTA: “Sinto-me muito motivado, muito entusiasmado e cautelosamente otimista. Podem ver o grande impulso que temos: o comitê de transição (24 países encarregados de estabelecer o fundo de ‘perdas e danos’ climáticos para países vulneráveis, NDR) obteve resultados muito positivos. Tive uma visita frutífera à União Europeia, que se comprometeu a dar uma contribuição significativa para o fundo de ‘perdas e danos’. Também puderam ver a declaração conjunta dos Estados Unidos e da China, e como estão cooperando para a COP28. Ou também o relatório da OCDE sobre os 100 bilhões de dólares [489,2 bilhões de reais] (meta anual de financiamento climático ‘provavelmente’ alcançada pelos países ricos em 2022, NDR).

Fiquei muito animado com os sinais que emergiram da cúpula Estados Unidos-China (meados de novembro em San Francisco): existe um acordo para organizar uma cúpula sobre o metano (2º gás de efeito estufa depois do CO2) e há um entendimento claro entre os dois para colaborar para garantir o sucesso e os resultados mais ambiciosos da COP28.

Quero resultados muito ambiciosos na COP28. E espero que consigamos chegar a um acordo coletivo sobre um plano concreto de ação climática. Estamos fazendo grandes progressos em energia, finanças, saúde, natureza.”

P: Como é que a guerra Israel-Hamas e outras crises internacionais afetam as negociações da COP?

R: “Espero que a COP28 seja a plataforma multilateral que traga boas notícias ao mundo. O mundo já está muito polarizado e dividido.”

P: Como você compara a COP28 com a COP21 que levou ao Acordo de Paris?

R: “Estamos no meio do caminho entre Paris e 2030 (…). É um ponto de inflexão. É a COP mais importante desde Paris e é nossa responsabilidade garantir que maximizamos a ambição da COP28.”

P: Você repete que é “um processo administrado pelas partes”, mas seu antecessor em Paris, Laurent Fabius, garantiu que um presidente da COP pode ter um grande impacto no desbloqueio das negociações…

R: “Deixei bem claro desde o primeiro dia que, embora seja um processo gerido pelas partes e que permitirei que todas as partes se comprometam e colaborem (…), pedirei a todos e a cada indústria que assumam a sua responsabilidade e prestem contas para manter a meta de aquecimento global de 1,5°C (definida no Acordo de Paris de 2015, NDR) dentro do alcance. Este ano aprendi que preciso dar tempo ao processo, ajudar a reconstruir a confiança e agir por meio da cooperação e da inclusão. ( …) Vocês me verão todos os dias na COP, eu prometo.”

P: As negociações sobre combustíveis fósseis serão as mais difíceis?

R: “Sobre os combustíveis fósseis, estendi um convite aberto a todas as partes para se reunirem, conversarem, cooperarem e apresentarem recomendações à presidência com uma base comum e consenso.”

P: Muitas pessoas estão preocupadas com a presença massiva do setor privado e das indústrias na COP28 e com a sua influência nas negociações…

R: “Todos têm que fazer parte deste processo e todos devem assumir responsabilidades (…) e prestar contas. Isso inclui todas as indústrias e, em particular, os grandes emissores [de gases], como a aviação, os transportes, o alumínio, o cimento, setores do aço e do petróleo e do gás. Todos devem ser consultados, todos devem ter a oportunidade de contribuir e todos devem assumir as suas responsabilidades e prestar contas.”

P: O que você espera como progresso em relação ao financiamento climático, um ponto-chave nas negociações entre o Norte e o Sul?

R: “O desafio do financiamento climático é uma prioridade na minha agenda presidencial na COP28. Devemos continuar avançando na busca de financiamento para a transição (além da contribuição prometida pela UE, NDR). Também ouço respostas positivas a minhas consultas em muitos países: haverá outros compromissos, acredito que veremos um maior impulso na reposição do Fundo Verde para o Clima e no objetivo de adaptação global.

Na COP28 estamos trabalhando em vias financeiras paralelas para restaurar a confiança e desenvolver um novo quadro para o financiamento climático. Precisamos incentivar o financiamento do setor privado.”

P: Um compromisso frágil sobre o funcionamento do novo fundo de “perdas e danos” foi aprovado em Abu Dhabi em 4 de novembro, que ainda precisa de ser aprovado pelos países na COP28. Você espera que esse compromisso seja aprovado pelos países desde o início da conferência?

R: “Esse é o meu objetivo? Com certeza. Mas é um processo gerenciado pelas partes. Farei tudo ao meu alcance para obter esse impulso positivo (para toda a COP, NDR) o mais rápido possível.”

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