Lá se vai um ano desde que a primeira agulha contendo o líquido redentor da Coronavac contra a Covid-19 foi aplicado no braço da enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo, dando início a uma saga bem-sucedida que já imunizou, até aqui, mais de 150 milhões de brasileiros com as duas doses. É uma vitória e tanto e guarda em si, desde o seu início, a marca de um jogo sujo de sabotagens, postergações e atos de desprezo por parte do governo federal. É sabido: os brasileiros somente tiveram acesso às vacinas devido a persistência e as negociações paralelas que o intendente paulista, João Doria, resolveu empreender diretamente junto a fornecedores internacionais. Do contrário, o Ministério da Saúde — orientado pelo presidente Bolsonaro, que questionava a “pressa” para tratar da “gripezinha” — não teria se mexido nesse sentido. O mandatário não queria a vacina. Nunca quis e até hoje se recusa a tomá-la, protagonizando uma campanha deplorável, covarde e mentirosa contra os seus efeitos. Esse Messias do cerrado, que já insinuou riscos de o imunizante provocar Aids, sem qualquer base técnica ou levantamento concreto para tanto, e alardeou a ameaça de que todos virariam “jacaré” depois que recebessem as doses, vangloria-se, inclusive, de não autorizar a aplicação na filha menor. Fica irritado e entra em descontrole quando lhe cobram maior engajamento na defesa e compra de mais e mais vacinas, até para o uso infantil. Bolsonaro, como uma espécie de líder supremo de uma tropa de negacionistas enlouquecidos e raivosos, prefere a aposta no charlatanismo das drogas miraculosas, como a Cloroquina, que jamais apresentou resultados contra a Covid. Hoje é possível dizer, e reiterar, em alto e bom som: apesar do obscurantismo, da visão tacanha e criminosa do mandatário, que não perde um momento para profanar as conquistas das vacinas, a Ciência vem vencendo a batalha contra a ignorância. De maneira notória e indiscutível. O mesmo Brasil, que chegou a registrar mais de 3,5 mil mortos ao dia, em meados do ano passado, hoje tem baixíssimo índice de óbitos pela doença e está em franca redução dos casos, com perspectiva de controle da pandemia ainda nesse ano — como de resto vem ocorrendo em todas as partes. Sem a imunização, com o festival de variantes aparecendo a cada momento, a ameaça à sobrevivência da humanidade seria assombrosa. Não restam dúvidas. As estatísticas comprovam. A Covid já ceifou a vida de mais de cinco milhões de habitantes do planeta, quantidade comparável ao de vítimas de guerras mundiais. Atualmente, como demonstração clara da conscientização geral sobre os trunfos da vacina, oito em cada dez brasileiros apóiam seu uso nas crianças. Mais de 60% dos consultados atribuem ao presidente a responsabilidade e culpa pelo atraso no início do processo — o que, inevitavelmente, provocou a morte de muitos. Dizem que a campanha de desinformação do capitão não surtiu efeito sobre suas escolhas. Não faz muito tempo, o Brasil chorando seus mais de 620 mil mortos pela doença assistia ao chefe da Nação rasgando o Lago Paranoá, em Brasília, a bordo de seu jet ski ou nas cristalinas praias de Santa Catarina, dançando funk, fazendo motociatas e cavalgadas, que geravam aglomeração ou em churrascadas, para comemorar sabe-se lá o que, sem nenhum sinal de compaixão pela dor alheia. Como exatamente imaginar uma figura assim servindo de exemplo ou referência à maioria da população? Bolsonaro parece mesmo trabalhar contra o próprio objetivo vital de se reeleger. Dá razões para ser derrotado. Fragorosamente. O capitão cloroquina não acertou uma das previsões apocalípticas e desorientadas que fez. No rol das tolices, sacramentou: todos irão se infectar; não adianta isolamento e máscaras; a imunização de rebanho é a solução e menos de 800 pessoas no País perderão a luta para a Covid. Errou em tudo. Anunciou o fim da pandemia diversas vezes, como se fosse possível fazer isso por decreto, e ainda afrontou as agencias de vigilância, sugerindo interesses escusos dos técnicos por contrariarem seus desejos. Bolsonaro encarnou o pesadelo de uma sociedade inteira com o seu comportamento errático ao longo de um dos períodos sombrios de nossa história. Mas, apesar dele, e a despeito das sandices que tentou, estamos vencendo o mal. Suas teorias delirantes foram superadas pela ação, responsabilidade e conhecimento dos especialistas e das instituições democráticas, que deram respaldo aos estudos e mostraram o caminho da saída. Em determinado momento, para marcar a contrariedade que alimentava diante das pressões por vacina, o governo de Jair Bolsonaro chegou até a tirar de circulação o boneco Zé Gotinha, mascote das campanhas de imunização infantil. Para quê isso? Simplesmente para reiterar e evidenciar que o País não deveria jamais contar com ele, Jair Bolsonaro, e o seu time, no plano da gigantesca batalha a favor da vida. É exatamente uma pessoa assim que você imagina ideal para continuar no comando do Brasil?