Pesquisa

Para quem está numa cama de UTI, o tempo é precioso. E num momento em que a pandemia de coronavírus mata em larga escala, o salutar esforço que a comunidade científica vem fazendo para alcançar algum tratamento eficaz contra a peste é um alento. Métodos e testes já conhecidos estão sendo adaptados de forma célere para se verificar o potencial dos benefícios que os pacientes terão. No Brasil, foi instituída pelo Ministério da Saúde uma parceria entre hospitais públicos, privados, universidades e centros de pesquisa, que estão desenvolvendo nove estudos em diferentes direções. Em quatro deles, está sendo testado o uso da Hidroxicloroquina e da Cloroquina. Outras envolvem utilização de plasma sanguíneo e de anticoagulantes. No total, participam da iniciativa cinco mil pacientes.

Em São Paulo, há uma parceria entre a Faculdade de Medicina da USP e os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês para desenvolver um estudo experimental que faz uso de plasma sanguíneo. Trata-se de uma terapia centenária que consiste em se retirar 600 ml de sangue de um doador, inicialmente homem, de 18 a 60 anos, saudável clinicamente, que foi contaminado pelo coronavírus, desenvolveu sintomas da doença e se curou. Os indivíduos que estão em período de convalescência também são doadores aptos. Após a separação dos componentes do sangue, testes específicos determinam se o plasma contém anticorpos da Covid-19 para que os pacientes que receberão a transfusão sejam beneficiados.

Sistema Imunológico

“Essa terapia pode ajudar o sistema imunológico a combater uma infecção com precisão e eficácia”, diz o diretor de pesquisa do hospital Albert Eintein, Luiz Vicente Rizzo. Com o tratamento, a intenção é diminuir a necessidade de permanência dos pacientes em UTIs. O empresário Renato Medrado Botto, 39, primeiro doador de plasma sanguíneo do hospital, contou com exclusividade à ISTOÉ como foi o período em que esteve doente devido ao coronavírus. “Senti muita dor no corpo e falta de ar, além de um grande mal-estar”, disse. Botto começou a sentir os sintomas da doença no dia 10 de março, acabou diagnosticado com uma pneumonia bacteriana e, mesmo sem realizar o teste específico para a Covid-19, seu médico afirmou que clinicamente estava constatada a infecção. Depois de recuperado plenamente, ele se prontificou a ajudar outras pessoas. “Me sinto feliz e grato por poder ajudar”, diz.
Além da terapia com o uso de plasma sanguíneo, outras oito pesquisas estão sendo acompanhadas pelo Ministério da Saúde. No Rio de Janeiro, a Fiocruz está coordenando o ensaio clínico Solidariedade (Solidarity), Esse estudo é uma conjugação de esforços em todo o mundo para dar uma resposta rápida sobre quais medicamentos são eficazes contra a Covid-19. Os trabalhos serão implementados em 18 hospitais de 12 estados. Outro estudo clínico importante, com fármacos anticoagulantes, como a heparina, está sendo realizado no hospital Sírio Libanês.

Descobriu-se que o coronavírus causa inflamação celular, formando microcoágulos que podem impedir que a circulação sanguínea ocorra normalmente, o que pode levar ao óbito. Por isso, uma junta médica do hospital está desenvolvendo um estudo no qual são administradas doses controladas de heparina em pacientes internados. Até agora, 30 pacientes foram tratados com esse medicamento e 25 deles não precisaram ser entubados.

“Se a terapia funcionar dentro do esperado, haverá redução na concentração viral e melhora dos sintomas”, Luiz Vicente Rizzo, diretor de pesquisa do Hospital Albert Eintein (Crédito:Fabio H. Mendes)

Nesse momento, médicos de todo o mundo correm contra o tempo para buscar uma solução eficaz contra a Covid-19. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, há mais de 1,5 milhão de infectados pelo coronavírus no planeta e já foram registradas mais de 92 mil mortes. O que se espera é que os testes clínicos no Brasil e em outros países avancem rapidamente e novas terapias eficazes possam ser adotadas no menor prazo possível.