Sentados ou de pé, na carona, deslizam na rua de palafita duas, três, quatro pessoas amontoadas em uma só bicicleta. Em Afuá (PA), onde carros e motocicletas são proibidos, a noiva vai de bicitáxi para a igreja, os irmãos maiores levam os menores na garupa, os pais colocam os filhos no bagageiro, o brigadista faz resgate do enfermo em uma maca adaptada para a bicilância, a ambulância da cidade.

Na cidade construída inteiramente em estruturas elevadas, onde as ruas de palafita estão a 1,20 metro de distância da superfície do rio, a bicicleta é o principal meio de transporte – depois dos próprios pés, claro. Na cidade sobre as águas, 75% das viagens são feitas de bicicletas, triciclos e quadriciclos. Todos conduzidos por força humana, não motor.

Município paraense na Ilha do Marajó, Afuá é cortada por rios. Tem 38 mil habitantes e nenhuma estrada. A proibição de veículos motorizados é levada a sério pelos moradores, que até já colocaram na cadeia quem tentou andar de moto.

Entre área rural e urbana, as ruas são os rios, e todos os trajetos são feitos de embarcações. Para chegar à cidade, a capital mais próxima é Macapá (AM), a cerca de três horas de barco. Ainda que existam 17 veículos motorizados registrados em Afuá, o tráfego de qualquer veículo com motor, até mesmo elétrico, é dado pela população e pelos gestores como “terminantemente proibido”.

Em Afuá, a limitação de veículos transformou o deslocamento de serviços essenciais. A ambulância é um quadriciclo formado por duas bicicletas, e uma maca leva o paciente. Há duas bicilâncias: uma é usada pelo hospital e outra, pelos bombeiros. Há também o quadriciclo do lixo e da manutenção.

Lançamento

Afuá é a menina dos olhos dos cicloativistas brasileiros, que lançam um livro sobre o perfil de ciclistas em municípios com menos de 100 mil habitantes. Em O Brasil que Pedala: A Cultura da Bicicleta nas Cidades Pequenas, eles visitaram 11 municípios para entender os hábitos dos ciclistas.

Em comum, os municípios têm uma extensão inferior a seis quilômetros de área urbana. “Isso faz com que pedalar se torne um meio de transporte absolutamente acessível, tranquilo e fácil para percorrer as distâncias que a cidade tem”, afirma Daniel Guth, da Aliança Bike, que organizou o livro ao lado de André Soares, da União de Ciclistas do Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.