Dois acontecimentos importantes passaram quase despercebidos pela imprensa nas últimas semanas: o primeiro foi a adesão do Irã à Organização para a Cooperação de Xangai (OCX), e o segundo foi o aumento das compras chinesas do carvão russo. Os dois eventos têm uma forte relevância no cenário da Eurásia e talvez por isto tiveram escassa cobertura da imprensa ocidental. A OCX é uma organização político-econômica criada pela China e pela Rússia em Xangai em 2001.

No início, o seu objetivo era uma tentativa sino-russa de juntar as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, como Uzbequistão, Tadjiquistão, Cazaquistão e Turcomenistão, em um espaço de livre-comércio com Pequim e Moscou. Cumprida esta etapa na década passada, a OCX conseguiu atrair para a sua órbita os rivais Índia e Paquistão, em 2015, e finalmente o Irã. A entrada do Irã na OCX marca em certo ponto o fim do isolamento econômico de Teerã.

Ao mesmo tempo em que tenta reabrir com o Ocidente as negociações para abandonar o seu programa nuclear, o Irã forja uma relação mais sólida com seus vizinhos asiáticos. Se o Ocidente não retomar as negociações, o Irã terá a possibilidade de fazer comércio com o Paquistão, a Índia e a Ásia Central. A China e a Rússia sempre negociaram com Teerã, sem temer as sanções dos Estados Unidos.

Mas a jogada mais inteligente de Pequim foi aumentar em 76% as compras do carvão vegetal da Rússia, que em setembro foram de 32,9 milhões de toneladas. Com a importação russa, a China espera resolver a falta de carvão para gerar a sua eletricidade.

O carvão gera 60% da energia elétrica chinesa. Ao mesmo tempo, os chineses suspenderam a compra de carvão da Austrália, sua principal fornecedora. É que o governo australiano assinou o Pacto do Indo-Pacífico com os EUA e o Reino Unido, tornando-se assim um aliado de Washington contra Pequim no Mar do Sul da China. A diplomacia chinesa pode esperar meses e até mesmo anos, mas nunca deixar passar uma desfeita.

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