Como nunca, de forma destrambelhada e quase suicida, as forças gravitacionais da política mexeram suas peças nos últimos dias praticamente empurrando o País para o destino trágico de uma escolha (que a maioria não quer) concentrada nas opções extremistas de Lula e Bolsonaro. O ex-juiz Sergio Moro, que se projetava como alternativa de terceira via, moveu-se tal qual garoto desengonçado quebrando cristais numa loja de louças. Saiu pela porta dos fundos do partido Podemos, sem nem avisar, e entrou, também sorrateiramente, no União Brasil, iludido por caciques que lhe ofereceram ouro e acabaram por entregar mirra. Moro enfureceu correligionários e eventuais torcedores com a tática afobada da retirada às escondidas, deixou para trás milhões em dívidas dos que investiram nele e diminuiu de tamanho. Foi avisado que, dali por diante, seu nome não seria cogitado, em nenhuma hipótese, para uma candidatura presidencial. Restava-lhe a Câmara dos Deputados. Quando muito, uma vaga ao Senado — se sobrar e outro postulante da agremiação, formada pelo DEM e PSL, desistir. Triste desfecho. O ex-juiz, sem traquejo nas roldanas complexas da engrenagem eleitoral, foi triturado por elas. No coração do ninho tucano, mais confusão. A autossabotagem era o nome do jogo. Antigos caciques de plumagem claramente desbotada e sem brilho, chamuscados por erros pretéritos, tentaram aplicar a rasteira no escolhido para representá-los na disputa, o agora ex-governador paulista João Doria. A resposta gerou uma confusão sem tamanho. O candidato renunciou antecipadamente, colocando em polvorosa o tabuleiro do PSDB, outrora a maior legenda de oposição em atividade. Desistiu da ideia logo a seguir, no mesmo dia. Na confusão de idas e vindas, arranhões na imagem, impulso a ambições paralelas daqueles que não se contentam em perder conforme as regras. O infante da política gaúcha, Eduardo Leite, ainda insistia e insiste em tumultuar o processo com encontros de negociações na surdina, incensado por pares que pretendem demolir aquele contra o qual acalentam seu ódio, rancor e inveja, o postulante Doria. Falta do que fazer e pendor ao derrotismo antecipado. O horizonte da via democrática, no meio da celeuma, mostra também, por sua vez, uma candidata da amorfa sigla do MDB, Simone Tebet. Articulada, coerente nas ideias, carece do básico: um plantel de realizações no campo público para chamar de seu. Na verdade, não tem o que entregar além de meras propostas. É pouco. Faria um bem enorme à própria reputação e às chances da terceira via se topasse participar como vice numa chapa do tucano Doria, tido e havido como o pai da vacina, com uma lista enorme de resultados a apresentar para conquistar a simpatia nas urnas. Doria e Tebet poderiam, assim, reeditar em terras brasileiras a bem-sucedida dobradinha norte-americana de Joe Biden e Kamala Harris que deu cabo do carrasco Donald Trump nos EUA. Funcionou lá. Certamente poderia se repetir aqui. A aguerrida Kamala, que inicialmente almejava uma candidatura própria, em voo solo rumo à Casa Branca, entendeu que precisava ceder e firmar fileiras com um quadro já testado nas entranhas da gestão pública. Biden era o nome. Altruísmo e senso de missão com o país que ali aconteceram parecem ser as balizas a faltar internamente para o consenso e as composições internas. Até quando? O tempo das pretensões e testes desses aspirantes não é igual ao do desejo da imensa maioria de ver logo uma opção. A campanha já começou, queiram ou não. Os polos antagônicos e aguerridos mergulhados até o último fio de cabelo em um projeto de controle da máquina do Estado e do poder para usufruto imoral e pessoal entraram em campo. Estão na ativa. É desesperadora a demora no entendimento entre aqueles que deveriam se mostrar unidos para apaziguar os ânimos. Por enquanto, o centro democrático orbita como uma quimera, sonho distante. Não concebeu nada. Não sai do lugar. Espera e perde oportunidades enquanto adversários avançam e consolidam posições. A hesitação pode levar a um fracasso estrondoso e ao desempenho pífio junto a um eleitor que não possui recall suficiente da chapa alternativa para tender a troca. A bancada da terceira via parece um rebotalho a dispensar o que há de melhor para uma candidatura viável. O que falta para enxergarem o óbvio, deixando de lado as picuinhas e traições vis? A chance da vitória vem sendo, bobamente, afastada. Cada vez mais.