Os meios de comunicação utilizados para as campanhas eleitorais têm se multiplicado nos últimos pleitos. Hoje, os panfletos e propagandas na televisão não são mais hegemônicos. Além das mídias sociais, o rádio volta a ter relevância, mas agora sob nova roupagem, mais digitalizada e com uma gama de recursos de maior complexidade no formato de podcast. Contratados a peso de ouro, os marqueteiros das campanhas estão antenados na nova tendência.

Além de trazer um ambiente mais leve, os candidatos podem tentar reconstruir sua imagem. Todos os principais presidenciáveis (Bolsonaro, Ciro, Doria, Lula e Moro) aderiram às entrevistas e alguns investem nos seus próprios programas.

O número de aparições nessas programações tem aumentado muito nos primeiros meses de 2022. Existe a possibilidade real de testar ideias e mapear como as pessoas reagem sem fazer grandes estragos na campanha. Alguns nichos sociais são carentes de debate e a pulverização da informação agrega a interlocução do candidato e seu eleitor.

Sisudo e, por vezes, chamado de coronel, o ex-governador Ciro Gomes apelou para o diálogo com a juventude. Para tanto, criou o programa “Ciro Games”. Ele tenta suavizar sua imagem, usando moletons em uma poltrona gamer. A ideia de criar uma ponte é válida, mas um tanto quanto forçada. De qualquer maneira, Ciro se esforça para mostrar que não é monotemático.
Outro candidato que sofre com o estigma de ser portador do samba de uma nota só é o ex-juiz Sergio Moro. Ele mira, no entanto, em um público mais abrangente e busca falar a linguagem do povo. Para isso, inaugurou o podcast “Demorô”. O marqueteiro de Moro, Pablo Nobel, disse à ISTOÉ que o “novo canal de conversa foi criado para que mais pessoas possam conhecer as ideias, posições e propostas”. Moro mantém a formalidade no vestir-se, mas se entrega à gírias e piadas para suavizar a imagem.

No sentido contrário, caminha o governador de São Paulo, João Doria. Enquanto todos tentam reconstruir a imagem, Doria reforça temas que funcionaram bem nas campanhas que já disputou, como a de 2016 para prefeito de São Paulo, em que apareceu como “João Trabalhador”. Ele sabe se comunicar e, em julho de 2021, o governador se apresentou no podcast “Inteligência Ltda” com o título de o “acelerador de vacinas”.

Incorporado no papel de tio inconveniente, Bolsonaro se apoia no formato desde o início do mandato nas lives de quinta-feira. Ele utiliza o espaço para se comunicar com seus principais seguidores e amplificar as mensagens do cercadinho do Planalto. O presidente tem habilidade para falar com extremistas como nunca se viu antes. Quanto mais sectário, mais o discurso do mandatário se propaga.

Direto com o eleitor

Fugindo do debate com a grande imprensa, Lula tem se aproximado de veículos que falam diretamente com o eleitor. Ele esteve em dois podcasts com maior apelo popular o “PodPah” e o “Mano a Mano”, ambos com grande audiência e que repercutem em outros meios de comunicação. Dentro de um ambiente controlado, a mensagem do ex-presidente tem dado retorno positivo.
Do ponto de vista jurídico, a campanha eleitoral ainda não começou. Há certa permissividade da Justiça Eleitoral, que não pune os candidatos e seus marqueteiros trabalham a todo vapor. Todos se intitulam pré-candidatos e lançam suas propostas. O financiamento partidário dá conta dos custos. Talvez, se o período da propaganda fosse mais longo, a campanha antecipada teria como ser mais bem fiscalizada.

Assim como nos rádios, os podcasts furam bolhas e os candidatos podem discursar sobre temas mais específicos. Em geral, a linguagem é mais jovial, descontraída e menos enfadonha, além de existir a possibilidade real de interação com o público. Já digitalizada, as entrevistas tendem a se tornarem virais por meio das mídias sociais e os marqueteiros sabem bem disso. Mas existe uma casca de banana no caminho. O recente episódio de um programa que defendeu o nazismo em um podcast mostra como é necessário estar preparado para não cair em armadilhas de um programa ao vivo.