14/09/2018 - 9:30
Se o ambiente de ódio que tomou conta do país traz um risco de explosão iminente, há cenários na disputa eleitoral que mantêm aceso esse rastilho de pólvora. Desses cenários, o mais evidente é um possível segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Seria a representação da polarização que tomou conta do país. Seu resultado provavelmente geraria ressentimentos no grupo derrotado. Seria grande o potencial de manutenção da alta ebulição política que hoje aflige o país. Nesse sentido, vários eleitores começam a considerar a hipótese de, já no primeiro turno, escolherem não exatamente o candidato de suas convicções ideológicas. Mas aquele que pareça estar mais próximo delas. E, principalmente, de vencer o adversário que, na sua ótica, representa o mal maior. Em suma, o voto útil.
O raciocínio do voto útil está por trás da melhora nos desempenhos de Ciro Gomes (PDT) e de Geraldo Alckmin (PSDB), anotados nas últimas rodadas das pesquisas do Ibope e do Datafolha. Divulgada na segunda-feira 10, a pesquisa do Datafolha frustrou quem imaginava um grande crescimento de Bolsonaro após a facada sofrida. Ele oscilou dentro de margem de erro, de 22% para 24%. Sua rejeição cresceu, e ele apareceu perdendo no segundo turno para todos os principais candidatos. Divulgada na terça 11, a pesquisa do Ibope já lhe deu algum alento. Ele apareceu com 26%. No segundo turno já aparece à frente de Haddad, mas empatado com Marina Silva (Rede).
Olho no 2º turno
Qualquer que seja o cenário, porém, as pesquisas apontaram crescimento maior de Ciro Gomes e também de Alckmin, enquanto que Marina caiu. Anotam uma ascensão de Haddad, agora formalizado como o candidato do PT, mas demonstram também alta rejeição e dúvidas sobre sua capacidade de vencer Bolsonaro no segundo turno. São tais situações que têm levado o eleitor mais à esquerda a considerar a hipótese de votar em Ciro, desprezando Marina, e o eleitor mais ao centro e à direita a pensar em votar em Alckmin, abandonando candidaturas como de Meirelles e Alvaro.
Nos programas eleitorais, Alckmin deverá seguir nessa tônica. Os ataques que já vinham contra Bolsonaro devem se somar a ataques ao PT. Em um caso, a campanha expõe as fragilidades de Bolsonaro e, por outro, ataca o perigo do retorno da crise que marcou o final da gestão de Dilma Rousseff, que seria o risco da volta do PT ao poder. No caso de Ciro, o caminho é reforçar seus posicionamentos no sentido de ter se mantido leal a Lula no processo da sua condenação, tentando atrair votos lulistas. O voto tomado pela racionalidade, o chamado voto útil, é o que vai ocupar a estratégia dos eleitores nos próximos dias na busca pelo candidato considerado por ele como o menos pior.