O Oceano Pesca I foi danificado por barco chinês este ano (Crédito:GIFF JOHNSON/AFP)

Nos últimos anos um novo mercado vem crescendo com força no Brasil: a pesca de atum. De acordo com dados da Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT), a produção para sushi e sashimi quintuplicou de 2010 a 2017. O atum tem gerado muita renda principalmente no Ceará e no Rio Grande do Norte, onde é desembarcado. Ali são produzidas cerca de 30 mil toneladas ao ano, a um valor de R$ 600 milhões. Apesar dos altos ganhos para o País, o mar não está para peixe quando se trata de regulamentações internacionais. Quem organiza o setor é o ICCAT, que estabelece um volume máximo permitido de pesca e o divide entre os países. O problema é que o Brasil, apesar de ter localização privilegiada no oceano, é recente nesse mercado e, por isso, não possui cotas para produzir determinadas espécies. “A atividade se desenvolveu de forma ilegal durante anos, sem nenhum controle”, diz Paulo Travassos, chefe científico da delegação brasileira que participa do ICCAT. “Recentemente, oficializamos a pesca, mas ainda não conseguimos a cota. A briga é muito grande”, diz.

DE QUEM É O PEIXE?

A entrada do Brasil nesse mercado desagrada à comunidade internacional. “Nenhum país quer perder sua cota. Temos receio de que essa briga se transponha para o mar”, diz Gabriel Calzavara, presidente do Sindipesca RN. A preocupação tem um fundamento. Na manhã do dia 22 de novembro, o barco Oceano Pesca I, do empresário Everton Padilha, foi abalroado por uma embarcação chinesa, a Chang Rong 4, quando estava em águas internacionais, a cerca de 600 quilômetros da costa do Rio Grande do Norte. “Nosso barco simplesmente foi atacado. Por muita sorte o comandante conseguiu virar e o impacto foi amenizado. Por graça divina não afundamos”, diz Everton. Logo após desembarcarem em território brasileiro, os tripulantes registraram um boletim de ocorrência na Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte, que instaurou um inquérito. O Tribunal Marítimo receberá o caso, abrirá um processo e então o encaminhará para a Procuradoria Especial da Marinha. “Eu acho que não vai dar em nada, porque não temos provas, somente fotos do barco batido e relatos das testemunhas”, diz Everton. Sem esperança de que alguém será responsabilizado pelo ataque, ele agora está instalando câmeras nos seus barcos para se proteger de futuros conflitos.


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