“Nós podemos parar o futebol?”, perguntou Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em uma reunião com dirigentes de clubes do país.

“Eu vou mandar no futebol brasileiro e vou determinar que vai ter competição e que vocês estão f… se não tiver”, avisou.

A resposta unânime, dos times com problemas econômicos, foi manter a bola rolando pelos gramados do Brasil, que segue registrando a cada dia números recordes de mortes e infecções por covid-19.

A teimosia da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e dos clubes em disputar os campeonatos estaduais e a Copa do Brasil esbarrou na ordem dos governadores de suspender jogos e outras atividades não essenciais em quase um terço do país.

São Paulo, Minas Gerais e Brasília, entre outros, são contra a manutenção das competições, que há um ano são disputados sem público, em resposta ao agravamento da pandemia que avança a passos acelerados e que já ceifou 300.000 vidas.

Privar os brasileiros de sua maior paixão faz parte dos esforços de governadores e prefeitos para conter o vírus e reduzir o número de atendimentos nos hospitais da rede pública, que estão à beira do colapso.

Mas essa medida também significa privar os times de premiações e da verba das transmissões pela televisão, já tão afetados pela paralisação do futebol entre março e junho passado e pela ausência da verba procedente da venda de ingressos.

“Eu assumo o ônus por todos vocês”, destacou Caboclo, em encontro virtual com os clubes no dia 10 de março, cujo vídeo foi divulgado esta semana pelo jornal O Dia.

“Eu não abrirei mão, a não ser sob doutorado dos senhores, de deixar de jogar as competições nacionais”, acrescentou

Ao final do encontro, a CBF informou que as federações e as 40 equipes da primeira e segunda divisões apoiaram, “por unanimidade”, a decisão de continuar jogando.

A entidade também garantiu que as partidas programadas para locais onde o futebol está proibido seriam transferidas para estados sem restrições.

– Equipes nômades –

Assim, por exemplo, o Palmeiras se preparou para jogar no dia 17 de março em Belo Horizonte, contra o São Bento pelo Campeonato Paulista. Mas o campeão da Libertadores não entrou em campo.

“Seria muito incoerente a gente tomar uma medida tão dura, tão restritiva como essa que estamos tomando no estado e permitir que jogos de outros estados acontecessem aqui em Minas Gerais”, disse Fábio Baccheretti, secretário estadual da Saúde.

Os paulistas, então, partiram para o Rio de Janeiro, que está entre os quatro estados mais atingidos pelo coronavírus no país. Na cidade de Volta Redonda, as duas equipes entraram em campo na noite de quarta-feira.

“Não temos vagas em hospitais, estou perdendo amigos, amigos treinadores (…). É hora de garantir a vida”, disse Lisca, técnico do América-MG, uma das poucas vozes no futebol que clamou pela suspensão.

A Liga Brasileira de Basquete (NBB), por sua vez, suspendeu os jogos da terça-feira, “em respeito” às instruções das autoridades.

A CBF defende que o futebol está sendo praticado em “ambiente seguro e controlado” e destaca a eficácia dos protocolos de saúde.

“Existem protocolos rígidos que orientam as melhores práticas em relação a viagens, hospedagem, alimentação, treinamentos”, afirma a entidade.

Dos quase 90.000 testes para o vírus foi registrada uma taxa de positivos de 2,2%, de acordo com um comunicado.

Porém, vários times enfrentaram surtos desde o ano passado: Flamengo, Palmeiras, Santos, Atlético-MG ou Corinthians.

Técnicos como Cuca e Vanderlei Luxemburgo foram hospitalizados. Branco, campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1994, nos Estados Unidos, luta pela vida em uma UTI no Rio.

O ex-lateral é o coordenador das equipes de base da CBF e teria se contaminado em viagem com a seleção Sub-18 para Recife, segundo o site GloboEsporte.com.

“Estamos numa situação tão difícil, tão complicada, porque o brasileiro gosta de assistir aos jogos, o brasileiro sente necessidade de assistir aos esportes pela televisão”, disse à AFP a técnica Lindsay Camila, que conquistou a Copa Libertadores Feminina com a Ferroviária.

“Se for necessário parar para voltarmos mais fortes, com jogos, com torcedores, sou a favor de parar”, acrescentou.

raa/js/gfe/lca