A blogueira Laís Crisóstomo Aguiar, de 27 anos, era um exemplo para milhares de garotas no Brasil. Com mais de 412 mil seguidores no Instagram, ela expunha a sua vida hedonista plena de viagens deslumbrantes e aparecia em entrevistas na TV onde dava dicas de saúde, turismo, esportes e cuidados pessoais. Seu programa “Em forma com Laís Crisóstomo”, na VinTV, veiculado até 2019, alçou-a ao estrelato regional na cidade mineira de Montes Claros, onde nasceu. Pela rede social, ela exibia suas curvas e ideias em ambientes de luxo em diversas partes do mundo, como as Ilhas Maldivas, o Principado de Mônaco, Paris e Dubai, nos Emirados Árabes. Parecia apenas mais uma jovem mulher de negócios que estava colhendo os frutos de suas iniciativas empresariais. Mas sua vida de glamour virou de cabeça para baixo no início do mês quando foi presa no Aeroporto de Guarulhos, carregando 461 gramas de cocaína no embarque para o país árabe. Integrante de uma família tradicional na cidade mineira, não era aparente a sua proximidade com o crime.

VIAGENS Nos últimos meses, Laís esteve em diversos países: turismo milionário (Crédito:Divulgação)

Laís está presa preventivamente por tráfico internacional de cocaína na Penitenciária Feminina da Capital, no bairro do Carandiru, em São Paulo, e já eliminou todas suas fotos no Instagram. No dia 5 de agosto, a droga foi encontrada entre os seus pertences em uma mala que era carregada por Peterson de Souza Fontes, de 44 anos, seu companheiro de viagem. Segundo a PF, a carga ilegal estava oculta em cápsulas colocadas em frascos de suplementos alimentares. No momento da detenção, ela informou que morava em Dubai desde o ano passado com o noivo Henrique Cassorielo, dono de uma casa de câmbio na cidade, e que estava retornando para casa depois de duas semanas no Brasil. Essas idas e vindas eram frequentes. O casal passou férias no Sul da Bahia, em abril. Peterson se disse amigo do noivo de Laís e declarou, em depoimento à PF, obtido pelo jornal O Estado de Minas, que atualmente é lavador de carros com salário de R$ 3 mil na cidade de Promissão, interior de São Paulo.

A jovem iniciou sua carreira como modelo aos 14 anos na agência Quality Models e, nos últimos tempos, mostrava-se uma empreendedora próspera e ambiciosa, sócia com três amigas de uma rede de salões de beleza chamada Glam Club das Unhas, que possui quatro lojas próprias, uma em Janaúba e três em Montes Claros. Declarou que essa participação na sociedade lhe garante uma renda média mensal de R$ 15 mil. Ao ser detida, afirmou também não ter conhecimento da carga ilegal descoberta na mala e declarou não ser usuária de cocaína. Peterson, por sua vez, assumiu a posse da droga e disse que tanto Laís como o noivo consomem a substância. No depoimento, ele teria dito que “todo mundo usa” e informou que havia pego a cocaína em Promissão para uso próprio. À polícia, seus advogados afirmaram que “ela é primária e possui ótimos antecedentes, além de exercer a ocupação lícita de sócia de empresa de estética em Montes Claros”.

PRAZERES Moradora em Dubai, onde o noivo tem uma empresa de câmbio: exibição do corpo e padrão de vida de alto luxo (Crédito:Divulgação)

Família tradicional

Os Crisóstomo tem longa história em Montes Claros. Tudo começou com o Bazar Crisóstomo, fundado pelo avô de Laís, há décadas, no centro da cidade. Nomes de antepassados da blogueira batizam diversas escolas e ruas. Para o advogado André Crisóstomo, primo de Laís e presidente da OAB na cidade, o que deve valer nesse momento é a “presunção da inocência”. “A gente fica muito triste com o ocorrido, mas sou contra qualquer tipo de julgamento antecipado ou condenação precipitada”, disse. “Ela é uma prima muito querida e admirada por todos que a conheceram.” Para André, muitas coisas ainda precisam ser esclarecidas e falta ser verificado quem, de fato, era o dono da cocaína.

O advogado que defende a blogueira, Rafael Serra Oliveira, disse que não poderia falar sobre os fatos, já que ainda não recebeu autorização da cliente. Ela já teve um primeiro pedido de habeas corpus negado e o segundo está sendo analisado. Para indeferir o primeiro pedido, o desembargador Valdeci dos Santos, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, considerou, entre outras coisas, que a quantidade de droga apreendida não pode ser enquadrada como sendo de usuária, “restando evidenciado que seria objeto de circulação na sociedade, contribuindo para o fomento do crime organizado”. Meio quilo de cocaína em Dubai vale em torno de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão). O desembargador também julgou insuficiente para afastar Laís do fato delitivo a confissão de Peterson de que a droga lhe pertencia. Outra preocupação da Justiça é que, em liberdade, ela deixe o Brasil. A questão é que a maré, realmente, virou para Laís. A garota influente agora está encrencada.