Ao instalar aliados bolsonaristas nas principais comissões parlamentares, o presidente da Câmara, Arthur Lira, está montando um grande cordão de isolamento ao governo Bolsonaro na Casa e pode acirrar o debate ideológico no Congresso. A estratégia de Lira é evitar que as iniciativas do governo enviadas à Câmara sofram obstáculos nas comissões e, ao mesmo tempo, tentar impor as pautas de costumes do mandatário. Essa tática começou a ser posta
em prática com a escolha da deputada Bia Kicis (foto) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara. Filiada ao PSL-DF, Kicis é investigada pelo STF nos inquéritos das fake news e atos antidemocráticos, comandados pelo ministro Alexandre de Moraes, e sua indicação gerou muito desconforto.

Meio Ambiente

Outra comissão considerada vital para os bolsonaristas é a do Meio Ambiente, que será presidida pela deputada Carla Zambelli. Ela já corroborou as graves acusações de Ricardo Salles, para quem as queimadas na Amazônia foram provocadas por ONGs. Sua missão será conter ataques à política ambiental e evitar que o ministro preste contas à Câmara.

Aliados

Bolsonaristas estarão em outros postos-chave, como é o caso da deputada Aline Sleutjes (PSL-PR), que assumirá a presidência da Comissão de Agricultura, setor crucial para o governo. Até o tucano Aécio Neves, também investigado no STF, foi cooptado por Lira. Ele presidirá a Comissão de Relações Exteriores no lugar do deputado Eduardo Bolsonaro.

“Eu me sentiria confortável no MDB”

GABRIELA BILO

Ex-presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia está de malas prontas para deixar o DEM, depois da briga feia com ACM Neto, presidente nacional da legenda. Diz que o mais provável é que vá para o MDB, presidido por seu amigo Baleia Rossi. “O MDB é um partido com quadros com quem tenho uma relação histórica. Eu me sentiria confortável lá.” Seu pai, Cesar Maia, já foi emedebista de carteirinha.

Retrato falado

“O Brasil é um manicômio tributário” (Crédito:Roque de Sá)

Felipe Salto, presidente da Instituição Fiscal Independente, que assessora o Senado, diz que a Reforma Tributária é urgente, embora esteja pessimista quanto à sua aprovação. “O pacto federativo está sofrendo um abalo sísmico.” Para ele, o País vive uma crise fiscal sem precedentes e “a economia não vai melhorar sem resolvermos a questão da saúde”. Salto acha que se o Brasil não tiver boa parte da população vacinada até julho o segundo semestre também estará perdido.

Vergonha alheia

O governo Bolsonaro, que virou pária internacional por causa da destruição da Amazônia, transforma-se agora em ameaça global devido à sua inação no combate à pandemia. O Brasil já é responsável por 30% dos novos casos e 12% de todas as mortes por Covid-19 no mundo. Os governadores estão desesperados, porque o ex-capitão se recusa a acelerar a compra de vacinas. Diante da inércia, os nove governadores do Consórcio da Amazônia tomaram uma atitude que deveria nos envergonhar. Recorreram ao embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, na sexta-feira, 5, para pedir que o governo americano os ajude a adquirir imunizantes para suprir a negligência do poder central.

Ajuda de Biden

Chapman disse que vai colaborar. Afinal, o governo americano está preocupado com o que acontece aqui. Com a ajuda de Joe Biden, os governadores irão comprar antídotos da Pfizer e da Janssem, fabricados por lá. Os governadores irão adquirir pelo menos 10 milhões de doses. É o que o dinheiro deles permite.

Toma lá dá cá

Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo (Crédito:Gilberto Marques)

Por que o senhor diz que os prefeitos terão de escolher investir em saúde ou em caixão?
As movimentações de alguns prefeitos são inadequadas. Esperamos que eles reavaliem suas condutas e implementem ações para conter o avanço da Covid.

Os prefeitos resistem em tomar medidas de isolamento social?
Alguns prefeitos têm dificuldades em compreender a dimensão do problema, impulsionados de maneira irresponsável pela omissão do presidente Bolsonaro.

A ocupação de UTIs está critica no estado?
Dobramos o número de leitos em São Paulo. Tivemos a desativação de leitos de UTI pelo Ministério da Saúde e chegamos a 80% de ocupação. As prefeituras precisam fazer sua parte e a sociedade deve manter o isolamento social.

Ritmo chinês

Ao contrário do que aconteceu com o Brasil de Guedes, que teve uma queda no PIB de 4,1% em 2020, a economia paulista gerida por Henrique Meirelles, secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, registrou um crescimento do PIB de 0,4%. Se fosse um país, São Paulo estaria ao lado da China (crescimento de 2,3%), um dos poucos a crescer na pandemia.

SERGIO NEVES

A força dos serviços

Segundo Meirelles, o crescimento paulista ocorreu por causa da força do setor de serviços, que teve um desempenho positivo de 1,8%, devido à política de incentivos do governo estadual. Só os projetos de estímulo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico geraram 800 mil novos empregos. Em 2019, São Paulo cresceu 2,2% e o Brasil, apenas 1,4%.

Novos amigos

Jane de Araújo

Como resultado do acordo que elegeu Rodrigo Pacheco, o senador petista Jaques Wagner (foto) acaba de ser eleito presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado. O PT se aliou aos bolsonaristas para derrotar Simone Tebet, que poderia ter sido a primeira mulher a ser eleita para presidir o Congresso.

Rápidas

* O ministro Fábio Faria (Comunicações) virou fiel escudeiro de Bolsonaro nas mídias sociais. No último fim de semana, bateu boca com jornalistas pelo Twitter em defesa do presidente. Na semana anterior, atacou governadores por conta dos recursos para a pandemia.

* Os irmãos Bolsonaro não vivem um bom momento. Enquanto Flávio está com o mandato de senador ameaçado por causa da mansão, o deputado Eduardo perdeu o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

* Luciano Huck vive um dilema. Terá que decidir, até julho — quando vence seu contrato na TV Globo —, se será candidato a presidente ou se continuará na emissora, onde é cotado para substituir Faustão nas tardes de domingo.

* Com o retorno de Lula ao jogo, o PSDB resolveu antecipar o processo para a corrida presidencial e marcou para 17 de outubro as prévias para a escolha de seu candidato a presidente. O governador Doria puxa a fila.