A beleza eterna de Liz Taylor

A beleza eterna de Liz Taylor

Por Aina Pinto Foto Divulgação Elizabeth Taylor, a própria encarnação da beleza, como definiu o diretor de Um Lugar ao Sol, George Stevens, a mulher de muitos amores, a dona dos olhos violeta dava sempre a mesma resposta a quem lhe dizia que ela tinha tudo na vida. ?Eu não tenho o amanhã?, dizia. Não podia estar mais equivocada. Após a sua morte, na quarta-feira 23, de insuficiência cardíaca, aos 79 anos, a frase perde o sentido. Os mitos, como os diamantes de que ela tanto gostava, são eternos, e sua morte representa o fim de uma era em que Hollywood era palco para belas e grandes atrizes de vidas turbulentas. A mesma frase denota também o anseio de viver o momento, a angústia de não ter expectativas e dá uma ideia do comportamento reflexivo da diva. Liz foi a mulher dos escândalos, dos oito casamentos, e também a atriz de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), numa interpretação visceral da sombria Martha que lhe valeu o segundo Oscar. O primeiro foi por Disque Butterfield 8 (1960), no qual interpretou uma garota de programa. Dona de uma beleza estonteante, poderia ter passado a vida como heroína romântica, mas optou por trabalhos mais densos e diversos, incluindo papéis escritos pelo conterrâneo Shakespeare, como em A Megera Domada (1967). E, claro, teve Cleópatra (1963), o filme mais caro da história até aquele ano, somando-se a essa conta o cachê de US$ 1 milhão para a protagonista, a primeira mulher a receber tal quantia. A produção teve vários problemas, a bilheteria foi ruim. O filme nem é uma grande peça cinematográfica. Alguém duvida que tenha ganhado o rótulo de ?clássico? pela simples presença de Liz Taylor no elenco? No elenco do épico, estava Richard Burton, com quem ela se envolveu durante as filmagens, quando ele era casado. Os dois se casaram pela primeira vez em 1964 ? era o quinto casamento dela. Foi um escândalo ? mais um entre tantos. Um dos primeiros havia sido entre o terceiro e o quarto casamentos. Ela estava com o produtor Michael Todd, que teria sido seu primeiro grande amor. Ele morreu em um acidente de avião e, no funeral, ela foi acompanhada do cantor Eddie Fisher, melhor amigo de Todd, casado com Debbie Reynolds. Pouco depois, Fisher e Liz se casariam. O caso foi tão ruidoso que a atriz recebeu até ameaças de morte e a crítica do público quase acabou com sua carreira. Mas naquele mesmo ano, 1959, ela fez De Repente, no Último Verão, com Katherine Hepburn e Montgomery Clift. Não havia escândalo que pudesse se sobrepor ao magnetismo que exercia nas telas. Com Burton, ela viria a se casar novamente em 1975, resultando na separação apenas um ano depois e na atriz tornando-se dependente de álcool. Os dois, na verdade, ficaram juntos por mais de 20 anos, entre idas e vindas. No ano passado, ela havia autorizado a publicação das cartas que trocaram nesse período no livro Furious Love: Elizabeth Taylor, Richard Burton and the Marriage of the Century. O oitavo e último casamento foi em 1991, com um homem 40 anos mais jovem, que conhecera na clínica de reabilitação. O relacionamento durou cinco anos. Com a vida amorosa tumultuada e uma carreira com média de mais de um filme por ano, desde o começo, aos 10 anos, em There’s One Born Every Minute (1942), Liz Taylor ainda tinha outros interesses. Um deles, a fundação que leva seu nome, de suporte a soropositivos. Seu envolvimento com o assunto começou depois que seu amigo, o ator Rock Hudson, morreu de Aids. Suas amizades eram tão intensas quanto seus amores. Uma delas, com Michael Jackson. Ela foi ao funeral restrito à família, mas se recusou a participar do que foi televisionado mundialmente e que classificou com ?circo?. Liz e Michael ficaram amigos nos anos 80, quando ela saiu no meio de um show dele. Ele ligou para perguntar o motivo e ouviu que não era por causa da performance, mas porque ela estava em um lugar ruim. Tendo em comum o fato de terem começado a carreira quando crianças e terem vivido sob as constantes pressões da fama, os dois passariam a se falar frequentemente. Durante a vida toda Liz Taylor teve uma saúde delicada, com inúmeras passagens por hospitais devido a problemas cardíacos. ?Meu corpo é um desastre?, disse em entrevista à revista americana W. Estava internada desde o início deste ano para uma cirurgia cardíaca. Passou o aniversário de 79 anos, em fevereiro, no hospital. A atriz foi sepultada na quarta-feira 24, no Forest Lawn, mesmo lugar onde está o corpo de Michael Jackson. Na cerimônia, o ator Colin Farrell, amigo da atriz, leu os poemas The Leaden Echo e The Golden Eco, do padre jesuíta e poeta inglês do século 19 Gerard Manley Hopkins. Os textos falam sobre a beleza terrena, passageira, e a beleza eterna.