Em publicações nas redes ou nos acalorados discursos feitos em comícios, Jair Bolsonaro deixou claro que não pretende recuar nos ataques às instituições. Ao estilo Carluxo, o presidente insiste em tratar ministros do STF como adversários políticos e acusá-los de não o deixarem governar. As falas sempre foram aplaudidas pela ala ideológica que o sustenta no poder. Na campanha, o capitão demonstrará de forma explícita que não está sozinho na cruzada contra a democracia. Pelo menos 15 aliados do Palácio do Planalto investigados em inquéritos pela propagação de fake news e organização de atos antidemocráticos planejam testar as urnas em outubro.

A “tropa de choque” é puxada pelo deputado Daniel Silveira, que quer disputar o Senado. Condenado à prisão depois de ameaçar ministros e defender a implementação de “um novo AI-5”, o parlamentar recebeu perdão presidencial e já colocou a campanha na rua, embora o entendimento da Justiça seja o de que a graça não tem o poder de restaurar os direitos políticos do congressista, mas somente de livrá-lo das implicações criminais. O registro da candidatura dele será avaliado pelo TRE do Rio.

Silveira promete criar novos perfis nas redes, uma vez que as páginas que usava foram derrubadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes, que assume o TSE neste dia 16. Como bandeiras principais, ele tratará da atuação de integrantes da Corte e do combate ao narcotráfico. “O ativismo de alguns membros do Judiciário vem colocando esse Poder em xeque”, disse à ISTOÉ. O congressista antecipou que comparecerá ao ato convocado por Bolsonaro para o Sete de Setembro, onde o presidente tende a impulsionar a retórica golpista, disse ele desafiando a Justiça, pois está proibido pelo STF de conceder entrevistas enquanto o processo estiver em andamento.

“Gabinete do ódio”

Na escalação dos aliados bolsonaristas para enfrentarem as urnas, o ex-assessor presidencial Max Guilherme concorrerá a deputado federal como Max Bolsonaro. No ano passado, o ex-sargento afirmou que ministros do STF teriam “estrangulado” a Constituição e declarou que estava pronto para ir “para a guerra”. Àquela altura, a PF já sondava a ligação dele com perfis que estimularam manifestações violentas. A delegada Denisse Dias, que presidia inquéritos como o das fake news, questionou nomes como Carlos Bolsonaro sobre o papel de Max no entorno do presidente.

Como ele, Tercio Arnaud Tomaz, um dos integrantes do “gabinete do ódio” coordenado por Carluxo, está estreando na política. Vai, contudo, concorrer a um cargo distinto: suplente de senador. Tercio gerencia páginas — algumas derrubadas por Facebook e Instagram — que disseminam desinformação. Nesta semana, ele ironizou a reclamação da esquerda sobre a decisão do YouTube de remover vídeos que questionam a veracidade do atentado a faca sofrido por Bolsonaro. “Quem defende a censura será alvo dela, mais cedo ou mais tarde”, escreveu.

Investigado no inquérito que mira a atuação de uma milícia digital contra a democracia, Roberto Jefferson foi a principal surpresa do jogo eleitoral ao se lançar ao Planalto. Em um vídeo, tratou a candidatura como um posicionamento político. “Nossa ação confronta a abstenção, preenchendo alguns nichos de opção ao eleitorado direitista”, disse. A deputada Cristiane Brasil, filha do ex-parlamentar, costuma taxar Moraes de “ditador”. Apesar da movimentação, Roberto Jefferson está inelegível em decorrência de uma condenação no Mensalão.

Na “bancada do ódio” estão também o deputado Otoni de Paula; o líder dos caminhoneiros Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão; e Antônio Galvan, presidente licenciado da Aprosoja. Todos são alvo de uma investigação sobre a organização dos atos do Sete de Setembro do ano passado. Os dois primeiros, inclusive, estão longe das redes sociais em decorrência das medidas punitivas por suspeitas sobre a tentativa de insuflar a população contra as instituições. Já Galvan, com acesso livre às mídias digitais, promete lutar contra a instabilidade que, segundo ele, foi criada pelo STF. As candidaturas indicam que, mesmo se Bolsonaro for enxotado da Presidência, o bolsonarismo perdurará no Congresso e a retomada da estabilidade entre os Poderes pode ficar longe no horizonte.