O país enfrenta a pior fase da pandemia, os hospitais colapsam, as autoridades se alarmam, os leitos escasseiam, as variantes aturdem, as vacinas vacilam; mas qualquer civilização declina contra frescura e “mimimi”.

Se as pandemias têm normalmente três vagas sucessivas — sanitária, económica e psicológica — no Brasil elas vivem juntas; amazonas do apocalipse, cavalgando a ignorância, esporando a pobreza, galopando este insólito negacionismo de Estado onde os sinais de loucura cobram à vista.

As três fases se sobrepõem tornando impraticável qualquer otimismo e entre a loucura e a sandice, contrariando medicina e estatística, o Brasil sofre depressões sucessivas; e enquanto o povo morre de Covid como nunca, muitos políticos continuam desconsiderando a doença, troçando das políticas mundiais de saúde e dando para o povo sinais irrefletidos que em certos casos funcionam como sentenças de morte.

Muitos dos que escolheram entre a corrupção e mudança, quando em 2018 votaram Bolsonaro, provavelmente hoje estarão se perguntando se a sua escolha teria sido a mesma se soubessem que estavam escolhendo entre corrupção e genocídio.

Mas é no futuro que o aprendizado do passado tem de aplicar-se. Antes da próxima escolha, olhemos a história. Ela sempre nos ensina.

Parceira de samba do capitão genocida é a Bailarina da Morte, um notável livro que Liilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling escreveram sobre a gripe espanhola que há um século matou muitos dos nossos bisavós e trisavós.

A Bailarina é um fabuloso exercício narrativo onde as historiadoras desenham um contundente retrato do Brasil durante aquela pandemia de gripe, uma descrição fiel de uma doença mortal com trágicas semelhanças com a “nossa” pandemia.

No início do século XX, uma desconhecida doença chegou a bordo do Demerara e outros navios vindos da Europa, mas que veio chamar-se Gripe Espanhola.

“Atchim…Atchim” foi a manchete do jornal “O Combate” em julho 1918 se referindo ao surto de gripe que fez os alemães perder a guerra e que depois, no mundo inteiro, haveria de matar 50 milhões de pessoas.

Há um século, a população morreu iludida por estatísticas simuladas e falsas curas milagrosas, mas hoje, 100 anos depois, morre igualmente por disputas políticas e atitudes negacionistas.

O ser humano é de fato o único animal que não aprende com a história.