Até o presidente Jair Bolsonaro aparecer com suas ideias tresloucadas, a cloroquina era apenas um ótimo remédio com uso consagrado contra a malária e no tratamento de doenças degenerativas como o lúpus e a artrite reumatóide.

Mas, de repente, um medicamento eficaz com conhecida destinação farmacêutica se tornou um engodo, símbolo da mentira e do charlatanismo na medicina. A insistência propagandística do governo, que impôs o produto como uma cura mágica da Covid-19, esvaziou sua importância histórica no desenvolvimento farmacológico e o transformou em algo quase ridículo. Sem contar que diminuiu a oferta nas farmácias para pessoas que realmente precisavam da substância.

A cloroquina, assim como a hidroxicloroquina, é um derivado sintetizado da quina, planta de uso imemorial na Amazônia. Os xamãs indígenas a indicavam para dores e febres, o que logo chamou a atenção dos primeiros colonizadores da América e dos pesquisadores de plantas europeus. Extraída da casca da árvore, a cortiça da quina, matéria-prima da água tônica, funcionava na América pré-colombiana como uma solução para todos os males e sobrevive na medicina tradicional da floresta como um produto capaz de combater dores de estômago, calvície e até lêndea de piolho, além evidentemente de malária. A cloroquina foi sintetizada pela Bayer em 1934 e a hidroxicloroquina, em 1946. Com exceção de Bolsonaro, nenhum curandeiro que se preze indica a casca de quina para combater o coronavírus.

No atual governo, a cloroquina foi reduzida a símbolo máximo da loucura sanitária. É injusto com o produto, que não merecia ter sido desconstruído de maneira leviana, e com a população, que tem sido sistematicamente enganada com falsas promessas de cura. Graças ao atual governo, um medicamento fundamental no desenvolvimento da medicina do século 20 virou uma piada macabra que não faz justiça com um longa história de sucesso. Bolsonaro conseguiu avacalhar a cloroquina.