Dizem que o inconsciente se expressa através dos sonhos, conectando os pontos e as intuições. E que eu teria o talento necessário para interpretá-los.

Por exemplo:

Sonhei que estava em 2023, no dia da posse do presidente Moro.

Parece absurdo, mas sonho é que nem projeto de lei: aceita tudo.

E tudo parecia explicadinho, então nem achei estranho.

Primeiro, Moro deixou de ser ministro.

oi um golpe de sorte. Por uma dessas coincidências do destino, justo quando o presidente decidiu que o ex-juiz estava com os dias contados, um importante ministro do STF, pimba, bateu as botas.

Infarto fulminante, ao vivo na TV Justiça.

– Surgiu a vaga. Graça divina! — enviou imediatamente pelo WhatsApp a ministra Damares, que andava muito próxima do presidente.

O velório nem havia terminado e o líder da nação já dividia o requeijão do café da manhã com Sergio Moro. O ministro chegou ministro, virou ex e saiu ministro de novo. Só que do STF.

O presidente pediu que Moro segurasse o anúncio por alguns dias.

– Sabe como é, né? Até o defunto esfriar…

O ministro concordou.

Mas Jaciara, a primeira-empregada doméstica, escutou a conversa e vendeu para um blog de fofocas de novela, que por sua vez vendeu para um vlog de política.

Em meia hora todo mundo sabia que Moro tinha caído para cima.

No STF, o ex-juiz teve uma participação irrepreensível, inclusive batendo de frente com ministros menos populares.

Aos poucos, seu nome foi voltando à mídia, de onde havia sumido durante o período em que participou do governo.

Afinal, em governo que tem os filhos do presidente e o Twitter presidencial, Moro não tinha como disputar atenção.

No STF, ao contrário, com um pouco de bom senso era fácil virar manchete.
Depois de prender deus e o mundo, uma revista de projeção nacional o colocou como personalidade do ano já no início de 2022. A foto de capa foi ele de Homem de Ferro.

A imagem não foi retocada. Ele se vestiu e posou de verdade. Fizeram até um making off para o YouTube.

Pegou mal, mas vendeu bem.

Foi então que começou a mudança de discurso. Moro começou a falar mais e mais sobre economia, educação, cultura e saúde. E a criticar Bolsonaro.

O governo, por sua vez, estava uma balbúrdia digna de curso de humanas em universidade pública desde que o presidente demitira Onyx Lorenzoni e dera a pasta da Casa Civil para Olavo de Carvalho. Foi o caos. Alguns diziam que os militares não iam aceitar, mas a verdade é que eles são hábeis conhecedores da milenar estratégia de dar corda para o inimigo se enforcar.

– Calma, gente. Conflito é natural na democracia. Me sigam no Snapchat! — afirmava o general Mourão.

O vice tinha mais de cinco milhões de seguidores nas redes sociais. Fazia selfies com filtro de cachorro e de bebê. Especialistas em marketing político diziam que sua estratégia era perfeita para atrair públicos mais novos visando a eleição.

Com a demissão de Paulo Guedes e depois tentar vários nomes desconhecidos para o cargo mais importante da economia, Bolsonaro fechou com Alexandre Frota.

A bolsa despencou.

Quando perguntado sobre o que faria para conter a queda, o ministro Frota respondeu na lata:

– Vou dar um azulzinho! — gargalhando com a referência ao remédio para disfunção erétil.

Com o País totalmente fora de controle, Moro lançou sua candidatura pelo PSDB. Foi apoiado por João Doria, que todos imaginavam que seria seu vice. Moro não confirmava. Dizia que nunca tinha pensado em ser presidente, que estava ali por desejo do povo. Por isso, ainda não tinha claro quem comporia sua chapa.

Acordei suando, justo na hora que Moro e Lula subiam a rampa do Planalto. Aí ficou difícil explicar. Freud, onde você está quando mais preciso?

Era 2023. O final do governo anterior fora um caos, com Olavão na Casa Civil e Frota na Economia. Ungido pelo povão, Moro saiu do STF para ser eleito. Acordei assustado ao ver quem era seu vice