Um pedaço de rocha com marcas de tinta de 73 mil anos foi encontrado na caverna de Blombos, sítio arqueológico localizado em uma praia a poucos quilômetros da cidade sul-africana de Still Bay. É a manifestação artística mais antiga de que se tem notícia. Maravilhas da arte rupestre, como a cova de Altamira, na Espanha, ou de Lascaux, na França, foram desenhadas há 17 mil anos. O acervo da Serra da Capivara, no Piauí, chega a 29 mil anos. A descoberta em Blombos foi publicada no último dia 12 na revista científica Nature.

A imagem se assemelha a uma hashtag ou “jogo da velha”. Os traços avermelhados são cerca de 30 mil anos mais antigos que as pinturas pré-históricas já conhecidas. A hashtag está inscrita em um pequeno bloco de silcrete – mistura de areia, cimento e cascalho – de aproximadamente um centímetro. O desenho termina bruscamente na beirada da pedra, indicando que talvez seja parte de uma figura maior e mais complexa. A caverna de Blombos é uma espécie de laboratório artístico da pré-história por guardar pinturas rupestres e artefatos como pedaços de ocre com desenhos abstratos, colares de conchas e ferramentas de pedra. Os desenhos rupestres falam sobre a cultura, o comportamento e a cognição de seus autores, além de mostrar que os antigos Homo sapiens na África do Sul eram capazes de criar formas com diferentes técnicas e em várias superfícies.

O arqueólogo Christopher Henshilwood, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, foi quem encontrou o objeto com sua equipe na propriedade de seu avô. Ao longo dos anos ele identificou e escavou nove locais na região, nenhum com mais de 6.500 anos de idade, até que se interessou pela caverna de Blombos. A pedrinha pintada foi achada em 2011 e tem sido analisada desde então.

A descoberta tem potencial para mudar a forma como os cientistas pensam a evolução dos humanos modernos e os fatores que talvez tenham desencadeado o evento mais importante da pré-história humana, quando o Homo sapiens deixou a terra natal africana para colonizar o mundo. Hoje a pedra não oferece nenhuma pista sobre o seu propósito original. Pode ter sido um objeto religioso, um ornamento ou apenas um rabisco antigo, mas certamente é algo que só uma pessoa poderia ter feito. A capacidade de criar e comunicar usando tais símbolos, diz Henshilwood, é “um marcador inequívoco” dos humanos modernos, uma das características que nos diferenciam de outras espécies, vivas ou extintas.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias