SUSTO O vereador Marlon Luz teve o vidro do carro quebrado e o celular roubado: grande prejuízo (Crédito:GABRIEL REIS)

70mil reais foi o valor que Marlon Luz perdeu e depois recuperou

Há três semanas, as irmãs Sônia e Maria Zelândia Mendes, de 57 e 65 anos, voltavam de uma pizzaria pela Estrada do M’Boi Mirim, na zona Sul de São Paulo, quando foram rendidas por dois assaltantes armados. “Quero o celular! Você vai ter que fazer um PIX”, gritavam, enquanto um deles já assumia a direção do Honda Fit que Sônia dirigia. “Eu pensei que ele ia atirar em mim”, conta. O sequestro, porém, não durou muito: acionada por uma motociclista que testemunhou a ação, uma viatura da Policia Militar iniciou uma perseguição de 40 minutos ao veículo — encerrada quando um dos assaltantes acertou outro carro de frente. Sônia teve ferimentos leves, mas não superou o trauma: está tomando antidepressivos desde então, muito também por causa de Maria, que, ao contrário, sofreu uma lesão na coluna e segue internada no Hospital Campo Limpo à espera de uma cirurgia. Ela não sabe se poderá andar novamente. Os dois ladrões foram presos sem conseguir transferir o dinheiro que desejavam.

3mil reais foi o prejuízo de F. A., de 27 anos, que teve o celular roubado

Infelizmente, histórias como essa têm sido cada vez mais comuns desde que o PIX entrou em operação, em novembro passado. Criada pelo Banco Central para agilizar transações financeiras e desonerar custos, ela também fez explodir um crime que estava em baixa: o sequestro-relâmpago. Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por exemplo, mostram que, de janeiro a junho de 2021, 206 pessoas passaram por essa situação no Estado — um número 40% maior do que no mesmo período do ano passado. No Rio de Janeiro, a Delegacia Antissequestro (DAS) emitiu um alerta há uma semana para o crescimento expressivo de registros semelhantes. O publicitário F. A., de 27 anos, que não quer ser identificado, quase passou por isso: quando se preparava para entrar na garagem de casa, dois homens em duas motos conseguiram rendê-lo. Ele pensou que teria o carro levado, mas, na pressa, os bandidos requisitaram seu celular. “Eles queriam só que eu passasse as senhas dos aplicativos bancários para usar o PIX”, diz. Como estavam nervosos, os ladrões abriram o app errado, justamente onde não havia dinheiro. Foram embora sem nada. “Ficou só o susto”, disse.

Transferências limitadas

Com o aumento expressivo de casos, o Banco Central foi pressionado a agir: limitou as transferências por meio da ferramenta para R$ 1 mil entre 20h e 6h e impôs aos bancos a regra de aprovar pedidos de aumento de limite em, no mínimo, 24 horas. Antes, esse valor máximo estava sob controle dos clientes. No entanto, há alguns problemas ainda não totalmente solucionados, como a política de ressarcimento dos bancos nos casos em que os ladrões consigam efetivar as transferências. Hoje, muitos deles têm respondido que não podem devolver o dinheiro porque os processos foram feitos com “uso de senha”. “O problema é que não dá para ser rápido e seguro ao mesmo tempo”, explica Álvaro Leis, consultor em Direito Digital do escritório HFL. Segundo ele, a ferramenta do BC privilegiou a segurança do sistema, que é criptografado, mas não se atentou às possíveis ações criminosas. “Agora, vamos ter que aprender a lidar com essa situação, limitando o uso do PIX, talvez”, continua. À ISTOÉ, a Federação Brasileira de Bancos revelou que as instituições estão preparando para breve um novo pacote de medidas para conter a onda de crimes usando a ferramenta. Uma das orientações da Secretaria de Segurança Pública às vítimas, por enquanto, é avisar os bancos imediatamente, fazer um Boletim de Ocorrência e reunir o maior número possível de documentos para solicitar o estorno. Mas os ladrões também estão atentos às mudanças no sistema. Na metade de junho, preso no engarrafamento, o vereador paulistano Marlon Luz viu um homem quebrar o vidro do seu carro e levar o celular.

206 pessoas sofreram sequestro relâmpago em São Paulo

No dia seguinte, ao acessar suas contas bancárias, outra surpresa: cerca de R$ 70 mil tinham sido retirados por meio de várias transações usando o PIX. O processo, no entanto, não usou os dados de um laranja, como a polícia já tinha identificado, mas foi feito transferindo pequenas somas para diversas contas de diferentes bancos digitais, dificultando o rastreamento – um dos recursos denunciados pela Febraban. No caso dele, no entanto, o dinheiro foi devolvido. “Agora eu mudei completamente a forma como controlo o dinheiro nos apps”, diz, aliviado. É essa, por enquanto, a melhor solução para evitar o prejuízo.