A recente subida do preço das mercadorias no comercio internacional é uma bênção, um presente de Grego ou uma oportunidade de ouro para refletir sobre uma futura estratégia econômica para o Brasil?

É verdade que nos últimos meses o preço das mercadorias no mercado internacional aumentou significativamente e isso teve um impacto muito positivo nas contas da nossa economia. Porque o sector dos produtos de base — também conhecidos por commodities — tem um papel vital na nossa economia o resultado imediato é bom, mas será inteiramente assim?

Precisamos ter em atenção quais os fatores que estão por detrás desse aumento de preços e como na verdade eles poderão se sustentar no futuro. É de esperar uma constante subida? Que fatores influem para a formação dos preços?

O crescimento populacional e o aumento médio de renda mundiais são o que puxa os preços para cima, mas as variações climáticas e o preço da produção energia são perigos que impactam diretamente o Brasil porque depende em demasia destes produtos e por isso mais exposto e é menos competitivo.

O maior determinante da vulnerabilidade de um país a choques de preços é a percentagem de commodities nas suas exportações, sendo que se é considerado “dependente” quando estas mercadorias representam 60% — ou mais das — das receitas totais de exportação.

É verdade que, de acordo com este critério, todos os países da América do Sul, mais a Jamaica e o Belize, podem ser classificados como Países em Desenvolvimento Dependentes de Comodities (CDDCs), mas quando falamos de um gigante como o Brasil, este modelo de negócio muito simplificado — arrancar da terra e vender, sem quase acrescentar valor — representa um risco sistémico incomparavelmente maior que em outros países nossos concorrentes diretos na economia global.

Dados oficiais das Nações Unidas (UCTAD) mostram que a participação média anual das commodities no total das exportações de mercadorias dos Estados Unidos da América é de (apenas!) 25%, mas no Brasil é de 64% (tudo isso!)

Quando em 2020, os dois países controlavam 85% do mercado global deste produto —um volume total 54,5 bilhões de dólares com uma repartição muito semelhante — Brasil $28,6 bilhões, para 44,1%; EUA $25,9 bilhões, para 40,1%.

Mas como a participação da soja nas nossas exportações é 12% e nas dos americanos é menos de 2%, o impacto da descida do preço deste produto na economia do Brasil é 6 vezes maior.

Para que o Brasil consiga se conectar com as melhores economias mundiais é urgente acrescentar valor aos produtos e não vender apenas a soja como ela brota da terra.