O Brasil vive uma apatia produtiva raramente verificada em sua história. Há um desalento generalizado e não há ambição de crescimento. As pessoas simplesmente desistem de procurar emprego. O setor industrial se adequou a um novo patamar pós-derrocada econômica e não parece empenhado em dar um salto qualitativo de eficiência e competitividade. O comércio se mantém aos trancos e barrancos e está estagnado neste ano. Os serviços, a grande esperança de empregos da sociedade da informação, crescem menos do que deveriam. Por isso, a entrada em recessão técnica, constatada na semana passada (o País encolheu 0,13% no segundo trimestre), é só um indicador gritante desta apatia.

Talvez o principal problema esteja mesmo na indústria. Há mais notícias de fábricas fechando (Ford, Nestlé etc) do que anúncios de novos projetos de manufatura. A indústria local está sendo sufocada pela falta de investimentos e pela incapacidade de concorrer com produtos importados. Acontece um processo chamado de “desindustrialização precoce”. Ao mesmo tempo cresce a defesa da vocação agrícola e extrativista do País, como propagado há um século. O economista Eugênio Gudin (1886-1986) não acreditava em viabilidade da indústria por aqui. O governo de Jair Bolsonaro parece seguir a mesma linha. Sua fórmula de crescimento pode ser resumida em favorecer a agropecuária e deixá-la avançar sobre a floresta amazônica sem entraves ambientais.

Uma economia forte precisa ter todos os seus pilares bem fincados. Não adianta só ser um fornecedor de commodities, mas esse parece ser nosso destino. Só a agricultura avança. Em 2017, segundo levantamento feito pelo Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (IEDI), a indústria ficou com uma fatia de apenas 12,6% da atividade econômica. Desde que o PIB passou a ser medido, no final dos anos 1940, essa participação nunca foi tão baixa. Enquanto mundialmente, o peso da indústria caiu, em média, 25%, perdendo espaço justamente para os serviços, por aqui a queda foi de 38%.

Nos últimos anos, o Brasil perdeu elos em cadeias produtivas industriais e não foi escolhido nem demonstrou competitividade para ser polo global de produção de componentes de alto valor agregado. Consolidou-se, na melhor das hipóteses, como um finalizador de produtos, um “maquilador” que fabrica bens de consumo com peças importadas. Junte-se a isso o fato de que os donos do capital não querem investir. Em vez de arriscar em algum projeto industrial, é preferível colocar o dinheiro no mercado financeiro e ganhar 10% ao ano. O capitalismo brasileiro jamais esteve tão desanimado.

Desde que a atividade econômica começou a ser medida, no final dos anos 1940, a participação da indústria no PIB nunca foi tão baixa

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